Qual a estratégia eleitoral de Bolsonaro para as cinco regiões do país
O comitê de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) trabalha para reduzir a margem de votos em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas cinco regiões do país até o fim de agosto e ultrapassá-lo até a data do primeiro turno em pelo menos três delas: no Sul, Norte e Centro-Oeste.
No Sudeste, o núcleo político prevê uma disputa mais acirrada e, no Nordeste, a expectativa é diminuir ao máximo a diferença e vencer Lula nas capitais, como disse o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, em entrevista à revista Veja, no último dia 2.
“O presidente Lula é muito forte no Nordeste, mas já foi mais. Eu não tenho dúvida: se eu disser para você que Bolsonaro vai ganhar no Nordeste, [sei que] não, mas vai diminuir muito a diferença. Vocês vão tomar um susto do que vai acontecer. O Lula vai perder em todas as capitais do Nordeste”, afirmou.
Com cerca de 42,4 milhões de eleitores registrados na base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em julho, o Nordeste é o segundo maior colégio eleitoral do país e onde Bolsonaro saiu derrotado nos dois turnos das eleições de 2018. Para reverter esse cenário ou ao menos reduzir a margem para Lula, a campanha alinha estratégias para dar uma atenção especial à região.
Coordenador da campanha de Bolsonaro no Nordeste, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado (PL), pré-candidato ao Senado por Pernambuco, diz que “falar a verdade” é a principal estratégia para angariar mais votos em todas as cinco regiões e não apenas no Nordeste.
Isso passa por comunicar melhor os feitos do governo, como as entregas de moradias e títulos de terra, e a realização de grandes obras de infraestrutura, como a transposição do São Francisco. Também está no cálculo político falar sobre escândalos de corrupção nas gestões petistas e comparações entre governos.
Comparação com governos do PT: uma das estratégias da campanha
O ex-ministro Gilson Machado cita o Auxílio Brasil como um exemplo do que é preciso ser feito para melhorar a comunicação com o eleitor, dentro dessa estratégia de falar sobre entregas e compará-las aos governos petistas. Segundo ele, a campanha tem a informação de que muitos beneficiários do programa social ainda associam os recursos recebidos do Auxílio Brasil ao Bolsa Família.
“Ainda tem 10 milhões de cartões com a logomarca do Bolsa Família. Quatro milhões foram trocados por cartões mais modernos, seguros e com mais funções financeiras, e outros ainda serão trocados”, diz Machado. Por esse motivo, a campanha vai apostar em uma comunicação direcionada para associar o Auxílio Brasil e o aumento de recursos recebidos pelas famílias à gestão Bolsonaro.
O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), vice-líder do governo na Câmara, auxilia as coordenações da campanha no Rio de Janeiro e no Sudeste e avalia que a estratégia de comparação entre os governos Bolsonaro e petistas é a mais adequada. “Eu acho que esta forma é a forma mais didática da gente apresentar o governo Bolsonaro e os seus feitos”, destaca.
“Ao fazer essa comparação, você acaba facilitando a leitura daqueles que estão indecisos, fica mais fácil, porque você apresenta números, e contra números não há argumentos. A estratégia de campanha que será adotada aqui na região Sudeste e em todo o país é a comparação entre o governo Bolsonaro e os antigos governos do PT”, explica.
Redes sociais ou imprensa tradicional: como será a tática de comunicação
A estratégia sobre como comunicar os feitos do governo está bem definida na opinião da campanha, mas a tática sobre como atingi-la nas cinco regiões ainda é desenhada. Para as regiões Sudeste e Nordeste, porém, há uma definição melhor que envolve o uso das redes sociais e da imprensa tradicional.
A propaganda eleitoral de Bolsonaro a ser veiculada nas redes de tevê e rádio causará um impacto expressivo em todas as regiões, analisam coordenadores da campanha. Otoni de Paula afirma, contudo, que no Sudeste a ideia é explorar as redes sociais ainda mais em relação às veiculações nas mídias tradicionais.
“A propaganda eleitoral televisa não tem o impacto tão grande assim no Sudeste. A questão das redes sociais, e aí eu incluo também o WhatsApp e o Telegram, funcionam muito fortemente, até pelo acesso mais fácil da internet”, diz o vice-líder do governo. No Nordeste, ele afirma que o efeito é o inverso. “Lá, a tevê ainda tem muita força e onde a gente consegue fazer o dado comparativo do que foi feito entre um governo e outro pela televisão com mais força e mais ímpeto”, complementa.
Mesmo nas regiões periféricas do Sudeste, Otoni diz que há uma entrada forte pelo acesso à internet e, por isso, afirma que a campanha vai investir em divulgação nas mídias digitais. “Até porque a onda Bolsonaro que foi articulada pelo Carlos [Bolsonaro] em 2018 começou com essa estratégia da rede social a partir do Rio de Janeiro”, diz.
Otoni lembra que, em 2018, a estratégia pelas redes sociais mostrou boa capilaridade no Sudeste e, também, no Centro-Oeste e Sul. “Ou seja, onde você tem maior capilaridade de internet e onde vai poder disseminar muito trabalho do governo via redes sociais”, destaca. Para essas três regiões, ele prevê um trabalho de comunicação específico e com um grau significativo de prioridade.
O aliado de Bolsonaro diz que a divulgação nas mídias tradicionais ainda terá sua importância e investimento dentro da estratégia de comunicação. Não à toa, a área criativa e das peças publicitárias para TVs e rádio é coordenada pelo publicitário Duda Lima, profissional de marketing político de confiança do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. “Entendemos que a comunicação nas rádios e tevê terá maior impacto no Nordeste, mas elas são importantes para todo o país”, reforça Otoni.
O ex-ministro do Turismo confirma que a propaganda eleitoral gratuita será imprescindível para impulsionar a campanha de Bolsonaro no Nordeste. “Não tenho dúvidas que vamos ter que focar no que foi feito, pois nenhum governo fez tanto quanto o que fizemos. As coisas vêm sendo feitas pouco a pouco, vamos melhorar. A gente foi ajustando devagarzinho”, diz.
O que mais Bolsonaro quer divulgar nas cinco regiões
Além do Auxílio Brasil de R$ 600 e da conclusão da obra de transposição do Rio São Francisco, há outros programas e realizações que ajudarão a “vender bem” a candidatura à reeleição, afirma aliados de Bolsonaro.
A transferência de recursos do Auxílio Gás, a entrega de moradias do programa Casa Verde e Amarela, a conclusão de obras paradas e as desestatizações também serão feitos destacados nas cinco regiões. E, claro, sempre comparando com os governos anteriores do PT.
“Só em Pernambuco foram entregues 48.814 unidades habitacionais em três anos e meio de governo. É muita coisa”, diz Gilson Machado. O ex-ministro também ressalta que, diferentemente do Bolsa Família, o Auxílio Brasil é um programa de agregação de renda, uma vez que, quando o beneficiário consegue um emprego, ele não perde o recurso imediatamente. “E ainda ganha o auxílio de R$ 200 por 36 meses, se for morador rural, e por 24 meses, se for urbano”, lembra.
Além das realizações mais estruturais, a campanha também prepara uma divulgação sobre os esforços do governo para desacelerar a inflação e impulsionar a retomada econômica, além de outras ações propostas pelo governo ou até mesmo sancionadas por Bolsonaro.
Responsável pelas redes sociais do pai, Carlos Bolsonaro publicou na última quinta-feira (4), no Twitter, um vídeo em que aborda feitos ao longo da gestão. Como a aprovação da pensão vitalícia a crianças com microcefalia, o aumento do piso salarial dos professores e a redução do valor do seguro DPVAT.
O vídeo também cita o perdão a dívidas de estudantes com o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) e atribui ao presidente uma redução de 21,4% na redução dos assassinatos, além de recordes na apreensão de drogas, na produção do agronegócio e nas exportações do país.
Campanha aposta em comunicação setorizada nas regiões
Além da divulgação de informações “gerais”, como os programas sociais e grandes realizações, a campanha também divulgará informações setorizadas, de modo a reconhecer as especificidades de cada uma das cinco regiões. “Não teremos uma propaganda uniforme para todo o país. Vão ter informações peculiares para cada região”, afirma Otoni de Paula.
A ideia é falar sobre a entrega de obras estaduais em todas as cinco regiões. No Nordeste, alguns exemplos são as obras de irrigação no semiárido nordestino. “Com a transposição [do São Francisco], a gente tem condições de ampliar, inclusive já tem projetos que levamos para o Ministério do Desenvolvimento Regional fazer novos polos de irrigação”, diz Machado.
Outro exemplo são os investimentos em áreas portuárias e aeroportuárias, como no Porto de Recife e no aeroporto de Fernando de Noronha.
Mesmo entregas mais gerais também serão importantes, como a titulação de terras. Na Região Norte, por exemplo, essa será uma das principais bandeiras da campanha. “O governo Bolsonaro fez uma reforma agrária silenciosa. Foram 377 mil títulos de terras entregues, a maioria fica com as mulheres e grande parte veio para o Norte”, diz o capitão Alberto Neto (PL-AM), vice-líder do governo na Câmara.
O deputado federal assegura que, no Norte, onde Bolsonaro venceu em 2018 encerrando uma hegemonia de anos da esquerda, o discurso usado pelo presidente de desenvolvimento sustentável em contraposição ao encampado por opositores da esquerda é bem recebido pela população.
“Ele tem que manter essa linguagem, de olhar para as pessoas mais do que para as árvores. Vamos preservar, mas além de preservar precisamos fazer nosso povo prosperar, pois essa riqueza que está aqui no Amazonas não pertence à França de Macron, à Noruega, nem à Alemanha, pertence a nosso povo”, afirma Alberto Neto.
A opção por um discurso setorialmente regionalizado também é bem avaliado pelo deputado federal Dr. Luiz Ovando (PP-MS), vice-presidente do partido no estado. No Centro-Oeste, por exemplo, onde o setor agropecuário é pujante, o discurso de titulação de terras e os esforços do governo para ampliar a produção do agronegócio e desenvolver a infraestrutura serão importantes para consolidar votos.
“Tenho andado o estado, tem muita parte asfaltada de rodovias, isso é muito bom, e passando em frentes das propriedades rurais. Grande parte delas com a bandeira do Brasil na frente, demonstrando que estão juntos com o presidente. Queremos manter a nossa terra pois conseguimos produzir e levantar a condição produtiva do país”, diz.
A redução de terras invadidas por movimentos sociais também é outro ponto que a campanha presidencial pode incluir no discurso, analisa Ovando. “As invasões reduziram muito. Na época do Fernando Henrique Cardoso, era uma invasão por dia. Agora, é coisa de uma invasão por mês, diminuiu bastante”, garante.