Por que Lula não apresentará versão final do plano de governo no 1º turno
A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu não apresentar a versão final do plano de governo antes do primeiro turno da eleição, que acontece no próximo domingo (2). O movimento é calculado e faz parte da estratégia para ampliar o número de apoios políticos em busca do voto útil e evitar a disputa em segundo turno.
De acordo com articuladores da campanha, a apresentação de um plano consolidado nesse momento poderia inviabilizar alianças que o petista vem buscando fora do campo da esquerda nessa reta final. Até o momento, as propostas de Lula para o campo econômico são as que mais geram incertezas. Contudo, o petista tem feito declarações públicas sobre o que pretende fazer e sinalizações para reformas, como a tributária e a administrativa.
Na última segunda-feira (27), durante ato com artistas e influenciadores em São Paulo, o candidato do PT afirmou que “não preciso ficar fazendo promessas porque sou avalista das políticas que vou fazer. Um legado de oito anos, de muito sucesso neste país para todos os segmentos da sociedade”.
No dia seguinte, ao jantar com empresários em São Paulo, o ex-presidente buscou sinalizar que seu eventual governo será marcado pela responsabilidade fiscal. Segundo interlocutores do PT, Lula reforçou o compromisso de trabalhar com o todos os setores da sociedade para discutir o texto da reforma tributária. Ele defendeu ainda que é preciso pensar em uma política tributária que equalize o pagamento de impostos, onde os que ganham menos não sejam penalizados.
Plano de Lula poderia inviabilizar apoio de economistas críticos ao PT
Nessa reta final, Lula recebeu o apoio de economistas com diferentes visões políticas e econômicas diferentes. Entre eles, Henrique Meirelles, ex-ministro do governo Michel Temer (MDB); André Lara Resende, um dos pais do Plano Real; e Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro dos governos José Sarney e Fernando Henrique Cardoso. Lara Resende e Bresser-Pereira sempre fizeram oposição crítica ao PT.
Satisfeito com o alinhamento deles, Lula disse que os convidaria para ouvir suas propostas na área econômica. No entanto, avisou que não abre mão de promessas na área social feitas na campanha em prol de “ajustes fiscais”.
Para a campanha de Lula, se já houvesse um programa de governo fechado, conforme idealizado inicialmente, não seria possível negociar apoios nessa reta final para o primeiro turno. Nos cálculos dos estrategistas, a medida consolidou o movimento de Lula posicionar sua candidatura no centro do espectro político.
Primeiro esboço do plano gerou críticas de aliados
Desenhado pelo ex-ministro Aloizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo, uma prévia do plano de governo de Lula gerou diversos embates dentro de partidos aliados ainda durante a pré-campanha. Pontos como a promessa de revogação da reforma trabalhista e do teto de gastos, e até a possibilidade de regulação da produção agrícola precisaram ser revistos ao longo deste período.
Para amenizar as críticas, uma segunda versão do plano de diretrizes trocou o termo “revogação” por “revisão” da reforma trabalhista. Depois, já com o plano protocolado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o trecho que citava a regulação agrícola gerou críticas de empresários do agronegócio, segmento que o petista tentou atrair ao longo da campanha.
No texto que havia sido apresentado ao TSE junto ao registro da candidatura constava ser “imprescindível agregar valor à produção agrícola, com regulação e a constituição de uma agroindústria de primeira linha, de alta competitividade mundial”.
Mas na última versão passou para: “é imprescindível agregar valor à produção agrícola com a constituição de uma agroindústria de primeira linha, de alta competitividade mundial”. Ao todo, o documento, intitulado “Diretrizes para o Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil”, contém 121 tópicos. Apesar de sinalizar as intenções do candidato, o plano não especifica quais serão as medidas adotadas em um eventual governo.
Em nota, Mercadante justificou que foram apresentadas ao TSE “propostas inovadoras e consistentes, realizados eventos temáticos e apresentados textos complementares aprofundando nossas iniciativas”. Além disso, o argumento da campanha é que propostas também estão sendo divulgadas nos atos públicos e em entrevistas do ex-presidente.
Diretrizes não contam com promessas já sinalizadas por Lula
Além de não apresentar o plano de governo consolidado, a campanha de Lula não incluiu nas diretrizes apresentadas ao TSE promessas já feitas pelo candidato petista. Até o momento, o documento não traz a promessa de isenção do Imposto de Renda para o trabalhador que ganha até R$ 5 mil.
O petista indicou ainda que pretende voltar com o Bolsa Família, atualmente chamado de Auxílio Brasil, e garantir o pagamento mínimo de R$ 600. O documento, no entanto, não apresenta fonte de recursos para bancar o acréscimo de R$ 150 por criança de até 6 anos beneficiária do programa, que foi divulgado no horário eleitoral.
Apesar disso, integrantes do partido de Lula defendem que o texto protocolado junto ao TSE e as declarações pública de Lula (“sou avalista das políticas que vou fazer”) garantem as intenções do petista junto ao eleitorado. “Não vamos entregar um novo documento de mais de 200 páginas. Esse tipo de detalhamento não é necessário, as diretrizes estão todas lá”, defendeu o deputado Nilto Tatto (PT-SP), integrante da Fundação Perseu Abramo.
Interlocutor de Lula com integrantes do mercado financeiro, o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) garante que o ambiente que vem sendo criado é o do diálogo e do planejamento conjunto. “Questões que foram levantadas anteriormente, como a reforma trabalhista, já estão claras. O [ex-] presidente Lula tem uma preocupação com as mulheres e trabalhadores por aplicativos. Ele quer fazer isso em um espaço de diálogo, quer liderar um novo ciclo de crescimento, com responsabilidade fiscal e reconhecimento internacional”, afirmou.