Lula foca em críticas a Bolsonaro e evita abordar propostas

O candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou do Flow Podcast na noite desta terça-feira (18). Ao longo de uma hora e meia de programa, o ex-presidente fez duras críticas e graves acusações contra Jair Bolsonaro (PL), convocou a população a ir às urnas no dia 30, data do segundo turno, e valorizou feitos do seu governo, em especial na área econômica.

Lula, no entanto, evitou
aprofundar na explicação de como tiraria do papel propostas apresentadas em sua
campanha, que envolvem alto gasto público. Em relação aos escândalos de
corrupção durante seu governo, o presidenciável chegou a repetir a falsa
alegação de que teria sido inocentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas
corrigiu após ser questionado pelo apresentador, Igor Coelho, reconhecendo que
os processos foram, na verdade, anulados por questões processuais.

A entrevista com o ex-presidente petista foi assistida ao vivo, em determinados momentos, por cerca de 1,09 milhão de pessoas, superando o número de acessos simultâneos de Jair Bolsonaro em sua participação no Flow, que representava, até então, o mais alto pico de acessos do programa.

Uma das estratégias de Lula foi explorar as falas de Bolsonaro sobre venezuelanas menores de idade que moram nos arredores de Brasília, quando o atual presidente deu a entender que as meninas se dedicavam à prostituição. A campanha petista buscava explorar esse tema na propaganda eleitoral tentando vincular a imagem de Bolsonaro à pedofilia, mas neste domingo (16) o ministro Alexandre de Moraes barrou a propaganda petista sob a justificativa de que havia “divulgação de fato sabidamente inverídico, com grave descontextualização e aparente finalidade de vincular a figura do candidato ao cometimento de crime sexual”.

Lula chegou a fazer graves acusações de que “Bolsonaro se
comporta como se fosse pedófilo”, porém ao explicar o contexto em que isso ocorreria
passou a falar sobre a conduta de Bolsonaro em relação a outros temas, como o
tratamento dado às mulheres e por não ter se reunido com movimentos sociais.

Veja abaixo declarações de Lula sobre alguns dos principais
temas abordados.

Fake news

Ao comentar sobre o problemas e os impactos das fake news
nas campanhas eleitorais, declarou: “Essa tal de fake news é um ‘liberou geral’
para o cara que não presta, para o mentiroso (…) Hoje é mentira atrás de
mentira, e você passa o tempo todo respondendo”. Vale destacar que nestas
eleições tanto a campanha de Lula quanto a de Bolsonaro já tiveram propagandas
eleitorais vetadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por conter
informações falsas.

Lula comentou episódios que classificou como fake news
contra sua campanha, a exemplo da alegação de que o petista fecharia igrejas
caso fosse eleito, ou apoiaria a criação de banheiros unissex.

Convocação à votação

O ex-presidente pediu que a população vá as urnas votar no
dia 30 de setembro, data do segundo turno das eleições. “Quero aproveitar essa
chance para convocar o povo a ir votar. Porque se você não votar você não tem o
direito de reclamar de nada, não tem o direito de xingar o deputado, o governo,
o prefeito e o presidente da República”.

Críticas à nova formação do Congresso

O ex-presidente fez críticas também à organização
democrática ao criticar a eleição massiva de parlamentares alinhados à direita nestas
eleições: “O Ulysses Guimarães dizia: ‘toda vez que sociedade quer mudar o
Congresso e fala que vai mudar, ele muda para pior’. A quantidade de gente que
entrou no Congresso nesses quatro anos foi muito pior”.

Autocrítica do PT

Questionado sobre eventual soberba e desconexão com o
trabalhador por parte do Partido dos Trabalhadores com o passar dos anos, Lula
falou sobre as origens do partido, que “nasceu grande, com o que tinha de
melhor no movimento sindical, no movimento social, da saúde, da carestia”, além
de “grandes intelectuais”, “parte da juventude que tinha ido para a luta armada
nos anos 70”. “Essa gente toda veio para o PT, mas quem mandava eram os
sindicalistas. Acontece que o partido cresceu muito”, afirmou.

“O PT foi crescendo e ficou mais confuso”, disse o petista.
“Obviamente que isso aconteceu. O partido cresceu e se afastou da sua base
originária também porque a base operária que criou o PT já não existia mais
como existia nos anos 80. O mundo do trabalho também não é mais o mesmo, então
mudou a base do PT”, afirmou.

Disse, também, que o “ódio” contra o PT se deve ao fato de o
partido ter ficado muito grande. Perguntado sobre eventual autocrítica a ser
feita quanto aos escândalos de corrupção em que o partido esteve envolvido,
afirmou que “é fantasticamente engraçado como as pessoas vivem pedindo para o
PT fazer autocrítica”. “Veja, se eu fizer autocrítica todo dia eu não preciso
de oposição”, disse.

Mandatos à frente do governo federal

Lula defendeu que seu governo fez a “maior política de
inclusão social que esse país já conheceu desde que foi descoberto”. “Nós
tiramos 36 milhões de pessoas da miséria absoluta, acabamos com a fome neste
país, que voltou agora poderosamente forte, e conseguimos colocar 42 milhões de
pessoas com padrão de classe média baixa”.

Produção sustentável

“O Brasil pode muitas coisas. A gente pode fazer, nós temos
30 milhões de hectares de áreas degradadas, de pastos abandonados. Tem que
recuperar essa terra e plantar o dobro do que se planta hoje sem precisar
derrubar uma árvore no Pantanal, na Amazônia”.

Falou também sobre compartilhar conhecimento científico relacionado
à Amazônia com outros países. “A riqueza da Amazônia está na exploração da sua
biodiversidade para que a gente possa fazer com que a indústria de fármacos e
cosméticos cresçam (…) E nós precisamos compartilhar com o mundo. O Brasil é
dono da Amazônia. O território é soberano nosso, mas a gente pode compartilhar
c conhecimento científico com o mundo inteiro”.

Legalização da maconha

Indagado sobre o trato da legalização da maconha em seu
eventual governo, disse que “essa não é uma questão que o governo tem que
tratar. Essa é uma questão que ou o Congresso nacional trata ou a Suprema Corte
cuida”.

Escândalos de corrupção

Questionado sobre, na eleição de 2018, ter sido o “fator
Bolsonaro” ou o “fator antipetismo” a ter permitido a eleição de Jair
Bolsonaro, Lula disse que fizeram “sacanagem” ao prendê-lo para, segundo ele,
ele não disputar as eleições, e declarou que se não estivesse preso, ganharia
as eleições no primeiro turno.

Afirmou que estava “à vontade” durante o processo que
apurava seu envolvimento com escândalos de corrupção e que queria “provar que
Sergio Moro [ex-juiz da Lava Jato] era mentiroso”.

Ao comentar a ocorrência dos casos de corrupção na Petrobras
durante seu governo, disse que “deve haver, porque a Petrobras tem 82 mil
trabalhadores, tem milhares de engenheiros, servidores, pequenas e média
empresas. Obviamente que pode ter corrupção”.

Lula também repetiu a informação falsa de que teria sido
absolvido pelo STF. Questionado pelo apresentador, ele corrigiu: “foi anulado”.

O ex-presidente foi denunciado por corrupção pelo Ministério Público Federal e condenado pela 13ª Vara Federal de Curitiba nos casos do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. Lula ficou preso por 580 dias pelo caso do tríplex, mas foi solto após o STF ter mudado entendimento sobre a prisão em segunda instância, determinando que ela só pode ocorrer após o trânsito em julgado (fim dos recursos) da ação. Em 2021, o STF anulou as condenações proferidas contra Lula alegando que a 13ª Vara de Curitiba não era o juízo natural da causa e remeteu as investigações para a Justiça Federal do Distrito Federal. Na prática, isso abriu caminho para a prescrição dos crimes. A anulação das condenações devolveu os direitos políticos ao ex-presidente, que pôde se candidatar nas eleições deste ano ao deixar de ser considerado ficha suja com base na Lei da Ficha Limpa.

Geraldo Alckmin

Sobre o ingresso do ex-tucano e ex-governador de São Paulo
Geraldo Alckmin (PSB) na chapa de Lula como candidato a vice, o petista disse
que convidou Alckmin para aumentar o leque de pessoas com quem pudesse
dialogar. “Nós precisamos consertar o país e conversar com muita gente, com
muito empresário, para que a gente coloque todo mundo para salvar esse país. E
o Alckmin tem condições de conversar com um grupo de pessoas que eu não consigo
conversar. Ele veio para ajudar a aumentar o leque de pessoas com quem a gente
tem que conversar e sobretudo para aumentar a possibilidade de ajudar o Haddad [Fernando
Haddad, candidato ao governo paulista] a ganhar as eleições em São Paulo”.

Regulação da mídia

Ao comentar sobre sua alegada proposta de regular os meios
de comunicação, disse que a medida não tem a ver com censura. “Eu não vou citar
aqui, mas tem canal de televisão que só fala asneira, só fala grosseria, só
ofende. Nós temos que ter uma regulação”. “Precisamos chamar a sociedade para
discutir. A gente pode fazer uma regulação como a legislação inglesa. Ninguém
quer uma regulação como Cuba”, afirmou.

Em relação às fake news dentro das rede sociais, indagado quanto
aos riscos de censura ao conceder que órgãos do poder público decidam o que é
uma notícia falsa e o que não é, Lula disse que não se pode criar um
instrumento poderoso (em referências às mídias sociais) e deixar à revelia para
cada um fazer o que bem entende”.

Disse que, se eleito, discutiria com a sociedade o melhor
caminho para regular mecanismos relacionados a fake news de modo que não haja
censura. Questionado sobre influenciadores alinhados à direita que tiveram seus
perfis excluídos das redes sociais por ordem do Supremo Tribunal Federal, como o
empresário Luciano Hang e o jornalista Allan dos Santos, Lula disse: “Você não
precisa extirpá-lo, você tem que educá-los. A democracia tem um limite”.

Campanha de lula tenta bater recordes de Bolsonaro no Flow Podcast

A campanha de Lula se articulou para fazer com a exibição da
entrevista com o ex-presidente no Flow Podcast superasse os números de
Jair Bolsonaro, que participou do programa em 9 de agosto
. O pico de
acessos simultâneos ao vivo da entrevista com o atual presidente foi de 570 mil
pessoas no Youtube, superando na época o número de acessos simultâneos de uma
entrevista do ex-presidente Lula ao Podcast PodPah, acompanhado por 292 mil
pessoas simultaneamente em dezembro de 2021.

Outro número que a campanha petista tentará bater é o número
de visualizações do episódio com a presença de Lula no Youtube daqui para
frente. O episódio com Bolsonaro é, atualmente, o mais visto no canal do Flow Podcast
no Youtube com 15 milhões de visualizações.

O deputado federal André Janones (Avante-MG), que atua como
um dos principais estrategistas dos canais digitais da campanha de Lula, tem
publicado desde segunda-feira (17) nas redes sociais pedidos para que
apoiadores do petista assistam ao episódio para aumentar os números de Lula.

“A meta hoje é uma só: dar ao Presidente Lula a maior audiência da história durante sua entrevista hoje as 19:00 horas no Flow! Nas próximas duas horas dediquem a existência de vocês a isso! Centralizem a pauta e falem nesse assunto como se a sua vida dependesse disso”, publicou Janones pouco antes do início do programa.

Referência: https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/flow-podcast-lula-foca-criticas-bolsonaro-evita-aprofundar-propostas-de-governo/

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