Garcia cresce no Datafolha e volta a encostar em Tarcísio em São Paulo

A pouco mais de duas semanas para o primeiro turno das eleições, a disputa pelo governo de São Paulo ainda está em aberto, segundo a última pesquisa Datafolha de intenção de voto (veja metodologia). Divulgado na última quinta-feira (15), o levantamento mostra Fernando Haddad (PT) em primeiro lugar, com 36% das intenções de voto. Na sequência vêm Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) e Rodrigo Garcia (PSDB), atual governador de São Paulo, ambos tecnicamente empatados, com 22% e 19%, respectivamente.

Em pesquisa anterior do mesmo instituto, divulgada no dia 1º de setembro, Tarcísio parecia estar se descolando de Garcia. Na ocasião, o candidato do Republicanos, que tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), aparecia com 21% das intenções de voto, enquanto Garcia tinha 15%. Ou seja, nessa pesquisa, os dois estavam próximos, mas não tecnicamente empatados.

Os números indicam, portanto, que Garcia conseguiu reagir frente ao crescimento de Tarcísio. Segundo especialistas, dois fatores principais contribuíram para a mudança no cenário: a campanha do tucano, com bom tempo de propaganda na televisão e no rádio, e o uso da máquina pública do estado; e o episódio envolvendo o deputado Douglas Garcia, apoiador de Tarcísio, no debate realizado pela TV Cultura em parceria com o UOL e a Folha de S. Paulo. O parlamentar tentou intimidar a jornalista Vera Magalhães que estava no evento a trabalho.

Propaganda e máquina pública ajudam Garcia

Lucas Fernandes, coordenador de análise política da BMJ, afirma que Garcia enfrentou, de início, o desconhecimento do eleitorado. Vice de João Doria (PSDB), ele só assumiu o governo estadual em abril de 2022, depois que o tucano renunciou com a intenção de se candidatar a presidente (o que acabou não se concretizando).

“Garcia teve essa dificuldade inicial em se fazer conhecido. Como tem a máquina pública e um bom tempo de campanha, isso tem ajudado o candidato a conquistar projeção”, diz Fernandes.

Pela divisão feita pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, a candidatura de Garcia é a que mais tem tempo na propaganda eleitoral: são 4 minutos e 17 segundos, frente a 2 minutos e 19 segundos de Tarcísio e 2 minutos e 18 segundos de Haddad.

Além disso, diz Fernandes, o atual governador tem buscado crescer em cima da rejeição a Tarcísio. Segundo a última pesquisa do Datafolha, 27% dos eleitores afirmam que não votariam de jeito nenhum no candidato do Republicanos. Em 1 de setembro, eram 24%.

No caso de Garcia, a rejeição é menor, de 17%. Haddad é o candidato com o maior percentual, 35%.

Intimidação a jornalista em debate

Além disso, um episódio ocorrido ao longo da semana pode ter contribuído para prejudicar Tarcísio. Na noite de terça-feira (13), após debate promovido por veículos de imprensa, o deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos), que fazia parte da comitiva de Tarcísio, hostilizou a jornalista Vera Magalhães. Na ocasião, o parlamentar afirmou que a profissional “é uma vergonha para o jornalismo”.

No debate entre os candidatos a presidente realizado no final de agosto, Bolsonaro já havia atacado a mesma jornalista. Na ocasião, ele respondeu a uma pergunta feita por Magalhães de forma agressiva, dizendo que a profissional teria “alguma paixão” por ele.

O próprio Tarcísio tentou se desvincular da situação. À imprensa, o candidato disse que ligou para Magalhães pedindo desculpas. “Me considerei responsável pelo fato de ele estar com uma credencial minha. A gente lamenta profundamente o ocorrido. É o tipo da pessoa que não vai mais receber uma credencial nossa, porque houve uma traição de confiança” disse Tarcísio à CNN Brasil.

Na opinião de Maria Teresa Kerbauy, professora da Unesp (Universidade Estadual Paulista) no campus de Araraquara, o episódio pode ter sido captado pela pesquisa, já que as entrevistas foram realizadas entre terça (13) e quinta (15).

“Acho que isso pode ter pesado. Não só o incidente com a Vera, mas o fato de que uma parte dos apoiadores de Bolsonaro defendeu o deputado, e outra ficou contra ele. Ficou uma coisa meio estranha, e o Tarcísio ficou sem poder… Mas também pesou todo o empenho do Garcia, de ir para o interior e fazer campanha”, diz a professora.

O interior de São Paulo é tido como mais conservador na comparação com a capital e seu entorno. O crescimento anterior de Tarcísio vinha sendo associado, justamente, à atuação de Gilberto Kassab (PSD) em prol do candidato junto a prefeituras fora da capital.

Ainda de acordo com Kerbauy, Garcia está investindo na desconstrução de Tarcísio, enfatizando, por exemplo, o fato de ele não ser de São Paulo (o candidato nasceu no Rio de Janeiro). “Tem uma espécie de avaliação do eleitor, se vale a pena votar em um candidato que é de fora do estado. Acho que isso também pode estar pesando”, afirma.

Como as campanhas de Garcia e Tarcísio reagiram

De um lado, a campanha de Tarcísio minimizou os dados, e já se movimenta para definir a estratégia para um possível segundo turno.

De outro, Garcia comemorou publicamente os resultados. Em evento de campanha, ele agradeceu a avaliação da população. “Temos uma grande intenção de voto, estou muito feliz”, disse.

Segundo o Datafolha, 31% dos paulistas avaliam a gestão do candidato como ótima ou boa; 42% a consideram regular; e 13% ruim ou péssima. Outros 13% não souberam responder.

Segundo turno com Tarcísio é melhor para Haddad

O crescimento de Garcia pode não ser bom para Haddad. Nos cenários de segundo turno do Datafolha, o petista vence tanto contra o atual governador quanto contra Tarcísio. No primeiro caso, porém, a vantagem do petista é menor: segundo a pesquisa, Haddad teria 47% das intenções de voto no segundo turno, contra 41% de Garcia. No cenário com Tarcísio, Haddad vence com 54%, contra 36% do adversário.

Fernandes, da BMJ, diz que se Tarcísio não for ao segundo turno, pode acabar apoiando Garcia. “E o segundo turno contra o governador seria difícil, também, porque o eleitor paulista tem a tradição do PSDB. Haddad tem conseguido reverter uma certa rejeição que tinha no interior, mas isso não é confortável”, avalia.

Ainda segundo Fernandes, o cenário pode ficar ainda mais complicado para Haddad caso a eleição para presidente se resolva no primeiro turno. “Pode haver uma abstenção maior se não houver segundo turno para presidente, já que a eleição é um pouco antes do feriado de Finados”, diz.

Pesquisa Datafolha para eleição presidencial mostra Lula com 45% das intenções de voto, contra 33% de Bolsonaro. Em São Paulo, Lula marca 44%, contra 31% do presidente, segundo o mesmo instituto.

Metodologia das pesquisas citadas

  • Datafolha de 15 de setembro

O Datafolha entrevistou 1.808 pessoas entre os dias 13 e 15 de setembro de 2022 em 74 municípios paulistas. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número SP-06078/2022. A pesquisa foi contratada pela TV Globo e o jornal Folha de São Paulo.

  • Datafolha de 1 de setembro

O Datafolha entrevistou 1.808 pessoas entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro de 2022 em 74 municípios paulistas. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número SP-04954/2022. A pesquisa foi contratada pela TV Globo e o jornal Folha de São Paulo.

  • Datafolha para presidente

O Datafolha entrevistou 5.296 eleitores entre os dias 13 e 15 de setembro. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e pela TV Globo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-04099/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.

São Paulo

O Datafolha entrevistou 1.808 pessoas entre os dias 13 e 15 de setembro de 2022 em 74 municípios paulistas. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número BR-09494/2022. A pesquisa foi contratada pela TV Globo e o jornal Folha de São Paulo.

Referência: https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/sp/rodrigo-garcia-cresce-datafolha-governo-sao-paulo/

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