Como o Podemos se organiza para as eleições após a saída de Moro



Desde que Sergio Moro abriu mão de sua pré-candidatura pelo Podemos para se filiar ao União Brasil, a legenda responsável pela entrada do ex-juiz na política vive um impasse sobre os rumos que irá tomar na disputa presidencial deste ano. Até o momento, a cúpula do Podemos ainda não decidiu se lança um candidato próprio ou se libera os diretórios estaduais para a costura de alianças de acordo com os interesses regionais.

Entre as possibilidades, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz colocou seu nome à disposição da Executiva Nacional do partido para concorrer à Presidência. Santos Cruz foi ministro do governo de Jair Bolsonaro (PL), mas rompeu com o presidente e se filiou ao Podemos semanas depois de Sergio Moro.

O militar era um dos principais entusiastas da candidatura do ex-juiz e agora passou a articular para que ele próprio seja o nome lançado pelo partido. “Ao menos metade do Brasil concorda que o que estamos precisando é de união nacional. Com 70 anos de idade, estou habilitado a qualquer função nesse Brasil. Uma candidatura depende de conversa sobre o partido, alianças”, disse Santos Cruz.

Há cerca de um mês, o general precisou ser internado em Brasília após ter sofrido um princípio de enfarte. Com o quadro clínico restabelecido, Santos Cruz lançou um manifesto para angariar apoio dentro do Podemos pela sua candidatura.

“O país precisa de novos rumos e novos comportamentos na política e na administração pública. Só os cidadãos podem afastar os embusteiros, os ladrões e os covardes. Isso é feito pelo voto. A eleição que se aproxima precisa representar esperança, expectativa de mudança, oportunidade para o país”, defendeu.

Ala do Podemos defende investimento na eleição da bancada do Congresso

Apesar do movimento de Santos Cruz, outra ala do partido defende que não haja candidatura própria à Presidência. Isso seria uma forma de investir os recursos do fundo eleitoral na eleição de deputados e senadores. Ao todo, a legenda terá R$ 187 milhões do fundo para bancar as eleições deste ano. A pressão para que o montante seja aplicado, principalmente, na eleição ao Legislativo já vinha ocorrendo desde que Moro ainda era pré-candidato a presidente pelo partido.

“A gente sabe que é um cobertor curto [a verba eleitoral]. Não tem como fazer mágica. Mas não adianta também custear integralmente uma campanha presidencial e o partido deixar de existir. Se não tiver deputado, como vai se manter?”, questiona o deputado Igor Timo (MG), em uma referência ao mecanismo da cláusula de barreira, criado para reduzir o número de partidos políticos no país.

Antes da janela partidária, o Podemos tinha 11 deputados federais, mas a bancada acabou encolhendo e agora conta com apenas oito parlamentares.

Para as eleições de 2022, a cláusula de barreira vai exigir que os partidos tenham no mínimo 2% dos votos válidos ou que sejam eleitos pelo menos 11 deputados federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da federação.

Se não conseguirem esse desempenho eleitoral, os partidos passam a sofrer restrições de acesso a dinheiro do fundo e propaganda gratuita, e perdem direito à estrutura de liderança partidária na Câmara.

Por isso, o principal argumento para os que rejeitam uma candidatura própria à Presidência é de que o dinheiro do fundo partidário deve ser aplicado para a “sobrevivência” do Podemos a partir de 2023.

Com o impasse, a Executiva do Podemos adiou para julho a reunião que irá bater o martelo sobre os rumos do partido. No último encontro, o líder do partido no Senado, Alvaro Dias (PR), defendeu cautela e que a sigla aguarde uma definição dos demais candidatos à Presidência para decidir o que fazer.

Durante o encontro, a escolha do nome da senadora Simone Tebet (MDB) como pré-candidata pela chamada terceira via também não empolgou os integrantes do Podemos. Líderes do partido afirmam que foram “escanteados” nas negociações que discutiam o apoio a uma candidatura única de centro.

Volta de Moro ao Paraná causa desconforto em integrantes do Podemos 

Depois de ter o pedido para troca de domicílio eleitoral para São Paulo negado pela Justiça Eleitoral, Sergio Moro confirmou que vai disputar um cargo eletivo pelo Paraná. Desde que se filiou ao União Brasil, ele vinha tentando costurar uma candidatura ao Senado por São Paulo.

Agora, Moro é cotado para enfrentar Alvaro Dias, seu padrinho político, na disputa pela cadeira do Senado pelo Paraná. Sobre o possível embate, o ex-juiz sinalizou que ainda não bateu o martelo sobre qual cargo irá disputar neste ano – Dias foi um dos maiores entusiastas da filiação de Moro no Podemos.

“Contem comigo sempre para ser um lutador, não vou desistir em nada”, disse Moro, após anunciar que será candidato pelo Paraná. “Ninguém vai me deter nessa busca por transformar o Brasil e fazer história novamente a partir daqui do Paraná. Quem vai decidir [sobre qual cargo ele irá disputar] é a população do Paraná.”

Mas há ainda outro possível impasse para Moro além daquele com Alvaro Dias. Caso o ex-juiz opte por concorrer uma cadeira na Câmara dos Deputados, ele disputará espaço com o ex-procurador Deltan Dallagnol. Ambos trabalharam juntos na Lava Jato.

Dallagnol se filiou ao Podemos e é visto dentro da sigla como um puxador de votos na eleição para a Câmara. Uma candidatura de Moro para deputado, no entanto, é vista no Podemos como um entrave, pois ele disputaria o mesmo eleitor que o ex-procurador. Embora ambos possam se eleger, Dallagnol tenderia a ter uma votação menor – o que diminuiria a votação geral do Podemos para a Câmara, que conta para a definição de quantos parlamentares cada legenda vai eleger.

Questionado sobre esse impasse, Moro desconversou: ”Tenho um grande respeito pelo Dallagnol, acho que ele vai fazer uma carreira brilhante na política. Em relação a ele, não existe nenhuma disputa, temos um respeito recíproco e defendemos as mesmas pautas. Não vemos possibilidade de conflito entre a minha pessoa e ele. São várias vagas, e há espaço”.



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