Como foi o início do primeiro debate entre os candidatos a Presidência

No primeiro bloco do debate na TV entre os candidatos à
Presidência, o presidente Jair Bolsonaro (PL) escolheu o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) para fazer a primeira pergunta. Confrontou o petista
com números da corrupção em seu governo – dívida de R$ 900 bilhões na Petrobras
e declarações do ex-ministro Antonio Palocci de que mantinha uma conta corrente
de propina para o PT de R$ 300 milhões.

“O senhor quer voltar ao poder, para quê? Fazer a mesma
coisa na Petrobras?” perguntou Bolsonaro. Lula respondeu que Bolsonaro falava “inverdades”
e citou leis contra a corrupção aprovadas em seu governo. “Não teve nenhum
presidente na República que fez mais investigação para apurar corrupção que nós
fizemos.”

Na réplica, Bolsonaro disse que o governo de Lula foi o “mais corrupto da história do Brasil”. Na tréplica, Lula afirmou que foi em sua gestão “que a Petrobras ganhou o tamanho que ganhou, com capitalização de R$ 70 bilhões”. Depois, passou a enaltecer conquistas de seu governo na inclusão social, geração de emprego, aumento no salário mínimo e investimentos em educação, proteção do meio ambiente, entre outras áreas.

Antes do embate entre os dois, a senadora Simone Tebet (MDB) criticou o clima de “radicalização” e “desarmonia” entre os poderes promovido, segundo ela, por Bolsonaro, que “ameaça a democracia, os valores democráticos a todo momento”. Ela respondia a uma pergunta da produção do programa sobre o que fazer para reduzir a tensão. “[Bolsonaro] Não respeita e imprensa livre, não respeita a independência do STF, do Poder Judiciário e do Poder Legislativo. Precisamos trocar o presidente da República. Sem paz, não vamos unir o Brasil. Sem união, o Brasil não vai voltar a crescer, renda para a população brasileira”, afirmou a candidata.

Na sua vez de responder, Bolsonaro disse que assumiu a Presidência escolhendo ministros por “critérios técnicos, sem ingerência política”. “Isso causou um desconforto por parte de alguns políticos e por parte de alguns partidos, como o MDB, por exemplo. Então abalei a harmonia onde todos eram amiguinhos e obviamente davam uma banana para o povo brasileiro”, disse.

Depois, sem citar o nome do ministro Alexandre de Moraes, criticou sua decisão de determinar busca e apreensão contra oito empresários por causa de uma conversa de WhatsApp – um deles disse que preferia um golpe a um governo do PT. “A ingerência, o ativismo se fazem presente hoje no Brasil.  Um ministro agora há pouco interferiu, mandando investigar, fazendo busca e apreensão, entre outras barbaridades, sobre um grupo de empresários […] Não tenho problemas com poder nenhum. Alguns ministros querem interferir no Executivo”, disse Bolsonaro.

Na sua vez de perguntar, Ciro Gomes (PDT) questionou Bolsonaro sobre a fome no Brasil. Após falar de crianças subnutridas e mães preocupadas, indagou ao presidente: “o senhor não teme que isso seja interpretado como conivência com isso?”. Bolsonaro começou dizendo que a inflação “é uma das menores do mundo” e que o governo está “colaborando na geração de empregos”.

“Pode ter certeza que no mês que vem devemos ter essa taxa [de desemprego] chegando a 8%. O nosso PIB está crescendo. Nós fizemos milagre durante a pandemia. Lamentamos as mortes, mas investimos para que empregos não fossem destruídos, com os programas Pronamp e Bem. Atendemos os mais necessitados”, disse Bolsonaro. Depois citou dados do Ipea que mostra redução da extrema pobreza no Brasil e aumento no mundo, e também mencionou o aumento do valor do Auxílio Brasil, que substituiu o Bolsa Família.

Questionado por Lula sobre sua proposta para a questão ambiental, Felipe D’Ávila (Novo) defendeu que “o Brasil seja a primeira nação carbono zero entre as grandes potências”. “O Brasil tem potencial para sequestrar 50% do carbono do mundo plantando árvore em terra degradada. Nós temos 50 milhões de hectares terras degradadas, dá para plantar árvore em 3 milhões, isso vai gerar renda para as pessoas mais pobres”, disse o candidato do novo.

Soraya Thronicke (União) foi indagada por Simone Tebet sobre o que pretende fazer para resolver o problema da educação. Respondeu que sua primeira proposta é isentar do imposto de renda todos os professores, que custaria R$ 10 bilhões por ano. Disse que vai investir na criação de “metodologias autodidáticas”.

Auxílio Brasil, vacinas e união da esquerda

O segundo bloco do debate, voltado aos questionamentos de jornalistas das empresas de comunicação organizadoras do debate, teve perguntas temáticas que foram do Auxílio Brasil, vacinas, dificuldade de se unir a esquerda à religião.

Logo na
primeira pergunta, Jair Bolsonaro foi questionado sobre a fonte de recursos
para a manutenção do Auxílio Brasil de R$ 600 no próximo ano sem o perigo de se
estourar a lei do teto de gastos. Ele afirmou que recebeu da gestão anterior um
valor médio de R$ 192 do Bolsa Família e que conseguiu ampliar o valor por
conta da revisão no pagamento dos precatórios e na diminuição do ICMS dos
combustíveis em alguns estados – que parlamentares do PT teriam sido contra.

Também
fez referência ao aumento do lucro em estatais na casa dos R$ 200 bilhões neste
ano “agindo na contramão de outros anos”, em referência às gestões passadas. Ao
que foi retrucado por Lula pela manutenção do auxílio não estar na Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) enviada ao Congresso recentemente.

O
candidato do PT afirmou que os parlamentares do partido vinham pedindo há dois
anos que o Bolsa Família fosse reajustado, e que “o povo tem que receber este
auxílio concomitante com a política de crescimento econômico e geração de
emprego”. Lula emendou retrucando os números citados por Bolsonaro, que
retrucou dizendo que os parlamentares “discursaram contra e votaram a favor”.

Na pergunta seguinte, em que Ciro Gomes foi perguntado sobre a cobertura vacinal do Brasil nos últimos anos, Bolsonaro foi escolhido para comentar e criticou a jornalista Vera Magalhães, que fez o questionamento. De acordo com ele, a ela teria tomado “partido em um debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito” por dizer que as vacinas passaram a ter a eficácia desacreditada pela população, num momento que precisou ter a intercessão dos mediadores.

O
candidato pedetista disse que tem a meta de alcançar a meta de 100% de
cobertura vacinal assim como fez no Ceará, e que quer “reconciliar o Brasil”.
No entanto, o tom de reconciliação foi deixado de lado na pergunta seguinte, em
que foi escalado para comentar se apoiaria Lula no segundo turno – e como
atrairia o apoio do petista em uma eventual disputa com Jair Bolsonaro.

Lula
elogiou a participação de Ciro em parte de seu governo entre 2003 e 2006 e que
pretende conversar com ele se a disputa for para o segundo turno. Ciro, no
entanto, revidou descartando essa possibilidade.

Na sequência, Simone Tebet foi questionada sobre feminismo, em que disse que pretende, logo nos primeiros dias, colocar em discussão no Senado um projeto de lei de equiparação salarial entre homens e mulheres; Soraya Thronicke foi perguntada sobre liberdade religiosa para todos, “chega de usar o nome de Deus em vão”; e d’Ávila sobre a infraestrutura brasileira para o escoamento da safra, em que se precisa fazer “parcerias público-privadas, concessões e dinheiro privado que só vem com segurança jurídica”.

Presidenciáveis discutem sobre mulheres, pandemia e economia

No terceiro bloco, Simone Tebet perguntou a Bolsonaro por que
ele teria “tanta raiva das mulheres”. Antes, disse que ele defendeu um “assassino
de mulheres no Senado”, votou contra a ampliação de direitos trabalhistas para domésticas,
ameaça jornalistas e comete misoginia. Bolsonaro respondeu que ela o acusava “sem
prova nenhuma” e que foi o presidente que “mais sancionou leis defendendo
mulheres”. Depois disse que a primeira-dama Michelle Bolsonaro nunca foi cumprimentada
por Tebet pelo trabalho voluntário que realiza.

Em seguida, acusou Tebet de não se solidarizar com médicas
que foram humilhadas na CPI da Covid. “Duas mulheres foram à CPI da Covid. Dra.
Nise e Mayra. Foram maltratadas, foram esculhambadas, humilhadas. Onde estava
vossa excelência? Escondidinha, apoiando Renan Calheiros, Omar Aziz, não foi
defender mulheres lá”, afirmou.

Tebet respondeu que ligou para a senadora Leila (PSB-DF),
que estava na sessão: “ela foi lá e defendeu a dra. Nise”. Finalizou dizendo
que seu governo “será de amor, de cuidados verdadeiros”.

Mais à frente, Bolsonaro questionou Ciro sobre o que achava
de suas políticas para concessão de empréstimos com juros baixos para mulheres.
O candidato do PDT disse que Bolsonaro “aparentemente não percebe, ou não dá valor,
ou não respeita, com a devida delicadeza, com a devida profundidade, que todos
nós devemos, essa grave questão feminina”, fazendo referência ao tratamento
verbal de Bolsonaro às mulheres. “Você disse certa feita, para chocar todos
nós, que nasceram seus três filhos e que aí nasceu uma filhinha porque teve uma
fraquejada. Isto é o que faz com que as pessoas desconsiderem suas políticas”,
afirmou.

Lula elogiou Simone Tebet pela atuação na CPI da Covid e
perguntou se houve corrupção no governo federal no combate à pandemia. “O que
explica o sigilo de 100 anos para o ministro da Saúde que agiu de forma
totalmente irresponsável no trato da Covid. O que explica o presidente brincar
com uma doença que matou 682 mil pessoas e ele não foi capaz de derramar uma
única lágrima?”, disse o petista.

A senadora respondeu: “eu vi, houve corrupção, tentativas de
comprar vacinas superfaturadas. Os documentos estão aí, Covaxin é o contrato
mais escabroso que vi. Tentaram pagar 45 milhões de dólares, para serem pagos num
paraíso fiscal, para uma vacina que não tinha comprovação científica sem nenhum
critério. Quando denunciamos a tentativa de levar vantagem de um dólar por
vacina, eu fui processada no STF por um ministro do atual presidente. Mas a
corrupção não começou nesse governo, começou em governos passados. Esse governo
tem esquemas de corrupção como lamentavelmente teve o governo de vossa
excelência”, respondeu a candidata do MDB.

Antes, Lula foi questionado por Soraya Thronicke sobre
inflação, desemprego e impostos altas. Perguntou sobre o que faria para
aumentar o poder de compra. O ex-presidente lembrou dados econômicos de seu governo,
com redução da dívida pública para 39% do PIB, da inflação para a meta e da geração
de empregos. “Volto com o único compromisso, e possivelmente eu seja a única
pessoa a dizer isso, que não posso voltar e fazer menos que fiz. Quero voltar
para ver se esse país volta a gerar emprego”, disse, acrescentando que quer
aprovar uma reforma tributária. Soraya respondeu que o PT é um “partido
corrupto confesso” e que os economistas dele “são todos mofados”.

Ciro Gomes aproveitou a pergunta a Felipe D’Ávila para anunciar
sua proposta de refinanciar a dívida de 66 milhões de pessoas com nome no SPC e
de mais 6 milhões de empresas endividadas. “Refinanciar dívidas é relativamente
simples. Um grande leilão, todos os crediaristas, os credores que derem o maior
desconto, eu tenho conseguido no Ceará 90% de desconto, traz a dívida média sua
de R$ 1.400, refinanciar em muitas prestações, com juros moderados”, descreveu.

Assista o debate ao vivo:

Regras do debate

O debate é dividido em quatro blocos, com previsão de durar 2 horas e 40 minutos. No primeiro, cada cada candidato responde a uma pergunta da produção do programa sobre programas de governo. Depois, cada candidato poderá fazer pergunta a outro, com direito a réplica e tréplica. No segundo bloco, os candidatos respondem a perguntas de jornalistas sobre temas relevantes. No terceiro, voltam a fazer perguntas entre si e depois respondem a nova pergunta da produção. No quarto e último bloco, cada um terá um minuto para considerações finais.

Referência: https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/como-foi-o-inicio-do-primeiro-debate-na-tv-entre-os-candidatos-a-presidencia/

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