Como foi a entrevista de Ciro Gomes no Jornal Nacional
O candidato do PDT à presidência da República, Ciro Gomes, participou, nesta terça-feira (23), da segunda rodada da série de entrevistas com os principais presidenciáveis no Jornal Nacional, da TV Globo, que está sendo realizada ao longo desta semana. O primeiro a dar entrevista ao telejornal foi o presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta segunda-feira (22). Na quinta-feira (25) é a vez do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e na sexta (26), de Simone Tebet (MDB).
Sob a condução dos apresentadores Willian Bonner e Renata Vasconcelos, Ciro Gomes falou durante 40 minutos sobre temas como relação com o Congresso Nacional em seu eventual governo; projetos na área de segurança pública, meio ambiente e desenvolvimento socioeconômico; e falas polêmicas do presidenciável.
Durante suas falas, Ciro afirmou que, caso eleito, diante de
impasses relacionados a temas sensíveis, apostaria na realização de plebiscitos
para debater com a sociedade, o que poderia gerar atritos institucionais com o
Congresso Nacional, já que isso enfraqueceria seu poder de decisão sobre tais
temas. O candidato afirmou que para solucionar isso, se dedicaria a negociar
com o Congresso e, principalmente, fazer alianças com governadores por meio da reestruturação
das dívidas dos estados para obter apoio.
Acompanhe a seguir os pontos abordados na sabatina:
Falas agressivas contra adversários
Questionado sobre falas agressivas contra seus principais oponentes, Bolsonaro e Lula, Ciro Gomes disse que há pessoas e grupos políticos responsáveis pelo atual quadro econômico do país, sobretudo por desemprego e fome, e que essas pessoas e grupos têm que ser apontados e responsabilizados, “mas não olhando para trás, mas olhando para frente”.
Declarou que houve corrupção generalizada e um colapso
econômico gravíssimo produzido pelo PT. “Temos que ser duros, a corrupção é um
flagelo no Brasil”. Disse, também, que para viabilizar suas propostas precisa confrontar
“aqueles que mandaram no Brasil durante esses anos todos”, mas que reveria sua
postura.
Programa de renda mínima
Sobre a viabilidade de sua proposta de pagamento R$ 1 mil por mês a pessoas que tenham renda mensal de até R$ 417, disse que o projeto representa “uma perna de um novo modelo previdenciário” que somaria programas de transferência de renda e os transformaria em um direito permanente.
Segundo ele, o valor para aplicar tal mecanismo seria de R$ 297
bilhões, e que para custeá-lo criaria um tributo sobre grandes fortunas.
Relação com o Congresso e foco em plebiscitos
Ciro Gomes disse que pretende mudar o modelo de governança
política no país para evitar entrar em colisão com o Congresso Nacional ou
recorrer a trocas de favores para aprovar projetos de interesse do governo.
Uma das medidas para isso, segundo ele, é recorrer a plebiscitos para discutir temas complexos com a sociedade. Afirmou também que irá negociar com o Congresso e, por fim, ampliar o diálogo com governadores e prefeitos.
Essa negociação com gestores estaduais e municipais se
daria, segundo o candidato, ao “libertar a falência de estados e municípios por
meio da reestruturação das dívidas com os entes federados”. “Eu reestruturo
essas dívidas, reforço o caminho do investimento nos estados e municípios, e os
governadores e prefeitos vêm para a mediação. Persistiu o impasse nesse ou
naquele ponto, chama o povo para votar diretamente através de plebiscitos”.
Questionado sobre possíveis crises institucionais com o
Congresso ao apostar nos plebiscitos como estratégia central, disse que isso se
resolveria “olhando mais para a Europa e para os EUA do que para a Venezuela”.
“Eu acho o regime da Venezuela abominável. É muito clara
minha distinção com esse populismo sul-americano que infelizmente o PT replica
aqui. Essa é uma tentativa de se libertar o Brasil de uma crise que corrompeu
organicamente a presidência da República”.
Ciro disse também que o compromisso perante o Congresso e não disputar a reeleição ao cargo o ajudaria a ter apoio do Parlamento para aprovar propostas.
Compromisso de não concorrer à reeleição
Perguntado sobre como tal compromisso o ajudaria a formar maioria no Congresso, afirmou que a reeleição destruiu a governança política e que o presidente passa a ter receio de conflitos com o Parlamento e se vende para agradar todos e se reeleger, e também por medo de CPIs. “Eu, abrindo mão da reeleição, vou cuidar só de fazer a reforma que o país precisa”.
Questionado novamente sobre como isso aumentaria a boa vontade do Parlamento, declarou que “isso ajuda muito; acredite, com a experiência que eu tenho, ajuda muito”, reforçando que também iria negociar com o Congresso.
Meio ambiente
O candidato afirmou que parte da população residente no bioma amazônico não entende o impacto negativo do desmatamento e que apenas a repressão não resolve. Propôs a implementação do zoneamento econômico ecológico, que consiste em estabelecer os locais em que se pode e em que não se pode desmatar. “A partir disso, temos que fazer um grande esforço de retreinamento e de diversificação da atividade produtiva (…) Fazer com que a economia rural aprenda que a floresta vale muito mais em pé do que derrubada”.
Afirmou que a partir daí, “a repressão vale para o
verdadeiro marginal” e que “a algema vai voltar a funcionar” no primeiro dia do
seu governo, em referência ao combate a crimes ambientais.
Emergências climáticas
Na coordenação de ações entre governo federal, estados e municípios, afirmou que serão mapeadas áreas de risco de locais vulneráveis no país e que os 5 milhões de empregos que pretende gerar estão relacionados a obras paradas, reurbanização, macrodrenagem, microdrenagem, contenção de encostas, reforma de moradias populares e saneamento básico “ao lado de um esforço estratégico de transformar a educação pública do Brasil numa das dez melhores do mundo em 15 anos”.
Sobre parceria com a iniciativa privada para o saneamento
básico, disse que “a responsabilidade é pública, estatal, mas a execução desse
objetivo de universalizar o saneamento básico deve ser delegada a quem for mais
eficiente em fazer”.
Segurança pública
Ciro Gomes disse que o enfrentamento às facções criminosas e
às milícias não seriam enfrentados localmente, mas por meio de uma estratégia
federalizada de policiamento. Isso seria feito “a partir de uma outa ferramentaria:
inteligência, tecnologia e aparato’.
Questionado sobre o que isso diferiria do que já existe,
Ciro disse que sua proposta resolveria o problema operacionalmente e financeiramente,
sugerindo aumento no orçamento de segurança pública.
Declarações finais
“Das cinco propostas que me propus a trazer hoje ainda não lhes falei de uma que é inédita, que é a ‘lei anti-ganância’. Eu quero colocar uma lei em vigor no Brasil que eu conheço da Inglaterra. Que é assim: todo mundo do crédito pessoal, do cartão de crédito, do cheque especial, etc., ao pagar duas vezes a dívida que tem, fica quitado por lei essa coisa. Isso é uma polêmica, estou apresentando aqui em homenagem a Willian Bonner e à Renata – ao Jornal Nacional certamente que me deu essa oportunidade.
A você, meu irmão, eu peço só uma oportunidade de mudar o Brasil. A partir de sábado vai estar no ar a Ciro TV. Me ajude, me dê uma oportunidade de mudar o Brasil, é o que lhe peço. A ciência de errar é repetir as mesmas coisas do passado e achar que vai ter resultado diferente, não vai. Me ajuda a livrar o Brasil dessa bola de chumbo do passado. Vamos nos esperançar de novo. Você que vota no Bolsonaro porque não quer o Lula de volta, me dá uma chance. Você que vota no Lula porque não quer mais o Bolsonaro, há um país para governar, me dê uma oportunidade. E você indeciso, vocês são mais da metade da população, está na mão de vocês mudar o Brasil”.
Referência: https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/ciro-gomes-no-jornal-nacional-como-foi-entrevista/