Como a campanha de Lula avalia a atuação de Janones nas redes sociais
A atuação do deputado André Janones (Avante-MG) na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas redes sociais tem gerado controvérsias dentro do comitê de campanha. Uma parte dos aliados comemora o crescimento do engajamento de Lula na internet, enquanto outra ala se vê receosa diante dos embates diretos de Janones com aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Desde o começo de agosto, os perfis de Lula no Facebook, Twitter e Instagram somaram pouco mais de 1 milhão de novos seguidores, enquanto a média mensal era de cerca de 500 mil. Ao todo, Lula acumula 17 milhões de seguidores em suas redes. O número do petista fica abaixo dos 50 milhões acumulados por Bolsonaro.
Apesar de não ter controle das redes sociais de Lula, Janones tem exercido um papel estratégico na coordenação da campanha na internet. O deputado é responsável, por exemplo, por mensurar a divulgação de conteúdos contra o petista em grupos de WhatsApp e por criticar abertamente aliados de Bolsonaro nas redes.
Na última segunda-feira (5), por exemplo, coube ao deputado do Avante alertar a campanha de Lula sobre um conteúdo falso que estava circulando em grupos de internet ligando o PT à decisão do ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), de suspender o piso salarial da enfermagem. De acordo com integrantes do PT, Lula se posicionou sobre o tema nas redes sociais depois de ser avisado por Janones sobre as postagens.
Na publicação, Lula aproveitou para afirmar que a proposta que aprovou o piso para os enfermeiros foi apresentada por um senador petista e que foi relatada por um deputado do partido na Câmara.
“Sempre defendi que a enfermagem tivesse um piso salarial. O projeto aprovado é do Fabiano Contarato, com relatório do Alexandre Padilha, ambos do PT. Bolsonaro vira as costas para profissionais que lutaram na pandemia. Seu filho votou contra o piso, assim como seu líder de governo”, publicou o ex-presidente nas redes sociais.
Líderes petistas admitem que a campanha do PT não tem o mesmo domínio da comunicação nas redes sociais como os aliados de Bolsonaro. Partiu de Janones, por exemplo, a estratégia de que Lula passasse a publicar sempre em primeira pessoa nas redes sociais. A avaliação é de que a medida deixa o candidato mais próximo dos leitores da internet e amplia a interação com os seguidores da campanha.
Campanha comemora ação de Janones junto a evangélicos e beneficiários do Auxílio Brasil
Além de ampliar o engajamento das redes sociais de Lula, André Janones também foi responsável pela estratégia do PT para combater conteúdos falsos junto aos evangélicos e por evitar os ganhos de Bolsonaro diante do aumento do Auxílio Brasil. Até o momento, a campanha de Lula não conseguiu reduzir a vantagem de Bolsonaro entre os evangélicos, mas os aliados petistas comemoraram a estratégia adotada para falar com o segmento religioso.
No mês passado, a campanha do PT identificou a proliferação de conteúdos afirmando que Lula fecharia igrejas caso fosse eleito. Após a repercussão, Janones sugeriu criar redes sociais próprias para falar diretamente com os religiosos.
Além disso, um vídeo do apoio de Lula à tolerância religiosa e à manutenção das igrejas em seu governo foi o destaque de visualizações no YouTube. Foram mais de 5,5 milhões de pessoas alcançadas graças ao impulsionamento.
Os aliados de Lula comemoraram os números da pesquisa Ipespe do último sábado (3), que apontou que 78% do eleitorado não acredita na possibilidade do fechamento de templos por “algum candidato”.
Outros 22%, no entanto, disseram confiar na notícia. Esses entrevistados são principalmente eleitores do presidente Bolsonaro. Mesmo assim, até entre eles a maioria não acredita (59%), contra 41% que afirmam crer na notícia falsa. Na base lulista, 89% rechaçam o rumor contra 11% que aderiram ao boato.
Além dos evangélicos, os aliados petistas também creditam ao trabalho de Janones nas redes o desempenho de Bolsonaro junto aos beneficiários do Auxílio Brasil. Desde o início da campanha, o entorno de Lula buscava emplacar a narrativa de que o reajuste no programa social foi eleitoreiro e que está garantido apenas até dezembro deste ano. Pesquisa da Quaest divulgada no último dia 31 mostrou que, entre os beneficiários do programa social, 54% afirmam votar em Lula, enquanto Bolsonaro apareceu com 25%.
O presidente garante que vai manter o valor de R$ 600 em 2023, embora esse compromisso não conste no projeto de lei orçamentária enviado ao Congresso. Um dos vídeos de Janones sobre o tema chegou a mais de 20 milhões de visualizações em apenas dois dias.
Além do desempenho de Bolsonaro junto aos beneficiários do Auxílio Brasil, um dos números apontados pela campanha de Lula como forma positiva diz respeito à pesquisa Ipespe, que mostrou que 37% dos entrevistados apontaram que o petista tem tido uma melhor presença nas redes sociais. O candidato do PT, no entanto, aparece numericamente atrás de Bolsonaro, que somou 39%.
Tom de Janones nas redes preocupa parte dos aliados de Lula
Apesar da percepção positiva de parte do entorno de Lula sobre a atuação de Janones na campanha, alguns integrantes do PT admitem preocupação com o tom adotado pelo deputado nas redes.
Em seus perfis pessoais, Janones chama apoiadores de Bolsonaro de “gado” e interage com provocações a políticos como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), os deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Carla Zambelli (PL-SP) e Carlos Jordy (PL-RJ) e até com o empresário Luciano Hang.
Recentemente, Janones acabou se envolvendo em uma acusação de racismo depois que chamou Sérgio Camargo, ex-presidente da Fundação Palmares no governo Bolsonaro, de “capitão do mato”. Camargo é negro. No Brasil, o termo “capitão do mato” é usado para se referir a homens livres e pobres que perseguiam escravos fugitivos em troca de dinheiro de fazendas ou feitorias. Alguns negros também exerciam a função.
O embate com Camargo ocorreu durante o debate da TV Band. Na mesma noite, o deputado quase foi às vias de fato com o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. Ambos precisaram ser controlados por outros assessores que estavam presentes nos estúdios.
Recentemente, Janones chegou a defender o uso de fake news contra Bolsonaro na campanha eleitoral ao afirmar que o partido do presidente, o PL, estaria por trás do pedido pra suspender o piso salarial da enfermagem, o que não é verdade.
“Mamadeira de piroca [referência a uma fake news propagada nas eleições de 2018 contra o PT] se combate com outra mamadeira de piroca!”, publicou o deputado, que desistiu de sua candidatura à Presidência para apoiar a candidatura petista.
Na avaliação de parte dos integrantes do PT, essa atuação de Janones pode acabar se voltando contra o candidato petista. Apesar disso, Lula tem aberto cada vez mais espaço para que o deputado participe das reuniões do núcleo de articulação da campanha. “Ele [Janones] é uma pessoa muito intuitiva, um menino muito ágil, muito esperto”, afirmou Lula durante entrevista à rádio Super, de Minas Gerais.
Metodologia das pesquisas citadas
A pesquisa do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), encomendada pela a Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), ouviu 1.100 eleitores entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro de 2022. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. O levantamento foi registrado na Justiça Eleitoral sob o número BR-09344/2022.
A pesquisa Quaest, encomendada pelo banco Genial, 2 mil eleitores presencialmente entre os dias 25 e 28 de agosto de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-00585/2022.