Bolsonaro explica frase “pintou um clima” em relação a venezuelanas
O presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputa a reeleição ao cargo, foi entrevistado no podcast Inteligência Ltda. na noite desta quinta-feira (20). Durante três horas de entrevista, Bolsonaro valorizou feitos do seu governo e abordou temas como pandemia, orçamento secreto e censura por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O atual presidente também apresentou seus argumentos em relação a episódios polêmicos. Um deles está relacionado à repercussão gerada por fala recente do candidato à reeleição de que “pintou um clima” com venezuelanas menores de idade que moram nos arredores de Brasília. Bolsonaro argumentou que estava acompanhado de uma grande comitiva ao abordar as meninas e que o uso da expressão “pintou um clima” não a teve conotação explorada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que tentou vincular Bolsonaro à pedofilia nos programas eleitorais de Lula.
“Eu sempre usei ‘pintou um clima’, ‘tem clima’, sempre usei
isso aí. Eu estava em uma comunidade, vi umas meninas bem arrumadas e ‘pintou
um clima’ para eu conversar com elas. Eu estava com 30 seguranças comigo. Eu
entrei na casa e comecei a conversar com elas. Olha o estado difícil delas:
abandonaram seus países, vieram para cá e ganham a vida. Não dessa forma [em
alusão à prostituição]”, disse. “Eu estava com mais de 20 seguranças, eu fiz
uma live dentro da casa das meninas. A CNN transmitiu minha live”.
O episódio em que Jair Bolsonaro foi entrevistado teve como pico 1,75 milhão de acessos simultâneos, o que o torna a entrevista ao vivo com a maior audiência da história do YouTube em todo o mundo. O antigo recorda era de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que nesta segunda-feira (17) foi entrevistado no Flow Podcast. Na ocasião houve pico 1,09 milhão de participantes ao vivo simultaneamente assistindo o petista.
Veja abaixo os principais tópicos abordados por Bolsonaro no programa:
Pandemia
“O ministro da Saúde [na época do início da pandemia] não
deu certo comigo. O tal do Mandetta, a preocupação dele era exatamente outra. Lembra
que falavam ’vamos achatar a curva? Vamos ficar em casa para achatar a curva?’
E esse achatar a curva era até semana que vem, era daqui a 15 dias, e ia
prorrogando. Agora, o achatar a curva era o tempo que tinha que ter para abrir
hospitais de campanha, aparelhar hospitais com respiradores. Era isso aí. E nós
fizemos isso, e as medidas restritivas continuaram se fazendo existir”.
“Nunca, por decreto meu, fechei uma só casa de comércio. Sempre
preguei que as pessoas mais idosas e aquelas com comorbidades ficassem isoladas
em casa. O resto tinha que trabalhar. Se continuasse uma política de não trabalhar
iria morrer muito mais gente”.
Bolsonaro também salientou que era contra o fechamento de
escolas, declarou que o governo não atrasou compra de vacinas da Covid-19 e que
comprou doses suficientes para todos os que quiseram se imunizar, e defendeu o tratamento
precoce. “Você foi proibido de discutir esse assunto. Agora, imagine se daqui a
algum tempo esses remédios forem comprovados, de fato, que poderiam ter salvo vidas.
Quem seria o ‘genocida’ nessa história?”
Arrependimento de declarações durante a pandemia
A respeito de declarações públicas polêmicas dadas por
Bolsonaro durante a pandemia, que têm sido bastante exploradas pela campanha eleitoral
de Lula para aumentar a rejeição do atual presidente, Bolsonaro disse que extrapolou
em alguns momentos. “Na pandemia, algumas palavras minhas, que no afã de eu resolver,
na indignação, eu extrapolei. E teve gente que marcou aquilo. E a oposição não
faz autocrítica, ela faz linchamento moral de você”.
Sobre acusações de má comunicação por parte do governo
federal durante a pandemia, Bolsonaro disse isso se deveu a problemas com parte
da imprensa devido à diminuição da contratação de espaços publicitários em veículos
de comunicação. “Nós resolvemos segurar isso [anúncios] não por maldade. Como
tinha teto de gastos, tem que cortar”.
MST e títulações de terra
Ao comentar sobre a distribuição de títulos de terra a
pequenos produtores rurais por parte do governo federal, Bolsonaro disse que um
dos pontos positivos para as famílias, ao serem tituladas é que elas deixam de
ser dominadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e valorizou
a queda de invasões por parte do movimento social durante seu mandato.
“Você não viu mais no nosso governo invasão de terras por
parte do MST. No governo FHC tinha em média uma invasão por dia. No governo
Lula diminuiu um pouquinho, passou a ser 20 por mês. No meu governo passou a ter
cinco por ano com a política de titulação”.
Aumento do salário mínimo acima da inflação
O presidente classificou como fake news a declaração do
deputado federal André Janones (Avante-MG), apoiador da campanha de Lula, publicada
nas redes sociais na tarde desta quinta-feira alegando que o salário mínimo seria
reduzido a partir de 2023 em caso de reeleição de Bolsonaro, uma vez que não seria
mais corrigido pela inflação. Bolsonaro afirmou que no ano que vem haverá
reajuste real do salário mínimo, ou seja, acima da inflação.
“O Paulo Guedes já desmentiu isso [alegação de Janones]. O
pessoal pega qualquer deslize de palavras, interpreta e joga. O Paulo Guedes
fala muito em desindexação da economia. O que é desindexar? [Significa que] o
percentual fica indefinido. Mas no momento tem a garantia de aumento real”.
Orçamento secreto
Sobre acusações de seu envolvimento no chamado “orçamento
secreto”, afirmou que vetou a proposta do Congresso para a criação da cota
extra da chamada “emenda do relator”, que dá origem ao orçamento secreto. “Quem
dá a palavra final em leis não sou eu, é o poder Legislativo. A proposta voltou
para o poder Legislativo, e o veto foi derrubado. Todo o PT votou para derrubar
o veto, inclusive”.
“Como foi derrubado, o Parlamento passou a ter, além dos R$
15 milhões que cada parlamentar tem e é direito dele [por meio das emendas
impositivas], mais R$ 15 bilhões (…) Eu não tenho nada a ver com o orçamento
secreto”.
Disse, ainda, que se reeleito vetaria novamente as emendas
do relator na votação do orçamento do próximo ano. “A gente veta de novo. Vai
sentir o novo Parlamento se vai derrubar o veto ou não. Se não derrubar, vale
por mais três anos”.
Lei Rouanet
“Amigos do rei tinha facilidade na lei Rouanet. Tinha pessoa
física que pegava até 10 milhões por ano. A lei Rouanet nós entendemos que era
para ajudar aquele pessoal que estava iniciando a carreira ou que já tinha
começado e precisava de um impulso. E aí a nata artística do Brasil se voltou
contra mim. Mas vencemos esse assunto e tocamos o barco”.
Cartão corporativo
“São três cartões: dois para despesas variadas, que eu não
boto a mão nisso. Como é que vou tomar conta viagens com 100 seguranças pelo
mundo? E um particular meu, que eu nunca saquei um centavo. Eu podia sacar R$
17 mil por mês e comprar tubaína. Eu nunca saquei para evitar problema”.
Acusação de compra de imóveis com ‘dinheiro vivo’
Bolsonaro criticou a forma como alguns veículos de imprensa veicularam
a notícia sobre suposta compra de dezenas de imóveis, pela família do presidente,
com dinheiro vivo. Segundo Bolsonaro, foram somadas operações de compra e venda
de imóveis de vários parentes e ex-parentes ao longo de 32 anos pagas em diferentes
formas de pagamento.
“Se você pega em qualquer registro, certidão, está escrito ‘moeda
corrente’. Maldosamente falaram o que? Dinheiro vivo. O que interessa? Está no
imposto de renda? Os meus estão, os dos meus parentes acredito que sim”.
“Um ex-cunhado meu, separado da minha irmã, tem umas 30
lojas de materiais de construção e de móveis no Vale do Ribeira. A maioria dos
imóveis foram comprados por ele. O que eu tenho a ver com isso?”, questionou.
Acusações de homofobia
“Eu não sou homofóbico. Eu sempre defendi que as crianças em
sala de aula não poderiam ter aquela carga de material que não era compatível
com a idade e nem os pais queriam isso. Então isso me valeu muitos processos.
Essas pautas de costumes, defesa da família, contra a liberação das drogas pesaram
bastante ao meu favor [em referência à campanha eleitoral de 2018]”.
Censura do TSE à Jovem Pan
“Estamos partindo para um Estado ditatorial. Poucos órgãos
de imprensa reagem ao que fizeram com a Jovem Pan. Ou você vê, quando muito,
uma nota meio assim, devagar. Tinha que ser contundente”.
Afirmou, ainda, que com uma eventual volta do Lula acredita
que o cenário de censura viria a piorar. “Até porque ele fala abertamente em
censurar a imprensa [em relação às propostas de regulamentação da mídia de Lula]”.
Relação com Sergio Moro
“Conversei com o Moro. Temos divergências. Resolvemos deixar de lado nossas divergências e partimos para o bem comum. Uu seja, o Lula é o pior para mim, para ele e para o Brasil. É o nosso entendimento. Então não se discute mais passado”.