Bolsonaro diz que ministros do TSE o perseguem politicamente
Em entrevista ao Jornal da Record na noite desta segunda-feira (26), Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição para a presidência da República, disse que ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o perseguem de forma parcial e que o órgão tem aceitado com frequência ações protocoladas por partidos de oposição, em especial o Partido dos Trabalhadores (PT), com o objetivo de atrapalhar sua campanha eleitoral.
Para isso exemplificou decisões recentes, como a recente proibição de transmitir lives de cunho eleitoral no Palácio da Alvorada, sua residência oficial, e no Palácio do Planalto, sede do governo federal, e a vedação ao uso de imagens da celebração oficial do bicentenário da Independência em suas propagandas eleitorais.
Em outra declaração, afirmou que há medidas por parte de ministros do TSE que considera perseguição política. “Os mesmos juízes que tiraram Lula da cadeia e o tornaram elegíveis são exatamente os mesmos que conduzem o processo eleitoral brasileiro e que tudo dificultam para que a comissão de transparência eleitoral consiga participar para evitar a possibilidade de questionamentos ao término das eleições”, disse, em referência à participação das Forças Armadas, que integram a Comissão de Transparência das Eleições, com contribuições ao processo eleitoral.
Durante a sabatina, Bolsonaro falou também sobre feitos do seu
governo, em especial ligados a questões econômicas, respondeu questionamentos
sobre sua condução da pandemia e fez críticas às gestões petistas. Acompanhe
abaixo os principais temas da entrevista.
Preços dos combustíveis
Bolsonaro afastou a possibilidade de retomar a cobrança de impostos federais nos combustíveis e disse que o projeto de lei apoiado pelo governo, que trouxe mudanças na cobrança do ICMS permitindo a redução dos preços, se deu por meio do Congresso Nacional, não representando uma medida apontada como “eleitoreira” por opositores do seu governo.
“Nós abrimos mão dos impostos federais do diesel, da
gasolina e do álcool e já tínhamos aberto mão do gás lá atrás. Essa, não digo
diminuição, mas zerar essa alíquota está mantido no orçamento na peça prevista
para o ano que vem”.
Privatização
Sobre privatização da Petrobras, Bolsonaro disse que é favorável
e entende que é vontade da população, mas que há dificuldades para isso, em
especial ligadas à tramitação no Congresso. “Nossa missão principal é sanear
suas dívidas. Estamos fazendo muito bem. E evitamos o loteamento político da
empresa”, afirmou, fazendo críticas às gestões petistas à frente da Petrobras.
Sobre a política de desestatização do seu governo, declarou que
as privatizações ocorreriam “separando, preservando alguma coisa que é
estratégica”. Dentro dessas exceções, exemplificou com a Caixa Econômica
Federal, o Banco do Brasil e a Casa da Moeda. “As demais empresas não são
fáceis as suas privatizações”, citando dificuldades com o Congresso Nacional.
Desemprego
Sobre como procederia com o combate ao desemprego em
eventual reeleição, mencionou ações do governo federal durante o período de
isolamento social na pandemia da Covid-19. Apontou que medidas de desburocratização
e desregulamentação da economia e das relações de trabalho teriam continuidade.
“Essa liberalidade, essa desregulamentação e desburocratização tem ajudado quem
empreende a criar empregos”.
Impostos
Argumentou que seu governo buscou promover diminuição de impostos, citando a redução de 35% no IPI de cerca de 4 mil produtos e a redução dos impostos de gasolina, álcool, diesel e gás de cozinha. “O Paulo Guedes, que é o grande mentor disso tudo, entendeu que na situação que nos encontramos, com a carga tributária excessivamente alta, ao diminuir você aumenta a arrecadação (…). Estamos combatendo de verdade a inflação, e com a diminuição da carga tributária estamos buscando a reindustrialização do país”, prosseguiu.
Auxílio Brasil a R$ 600
A respeito da manutenção do valor do Auxílio Brasil em R$ 600, Bolsonaro afirmou está garantida tal continuidade e que há acordo com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para a manutenção dos valores.
Sobre ganhos reais no salário mínimo, isto é, superiores à
inflação, disse que os impactos econômicos da pandemia impediram aumentos
maiores do piso mínimo nacional nos últimos anos.
Questionado sobre o porquê de resultados econômicos positivos
neste ano não estarem se traduzindo em maior intenção de votos à sua
candidatura nas pesquisas eleitorais divulgadas recentemente, o candidato à
reeleição afirmou que não acredita nas pesquisas e, ao argumentar que possui
números favoráveis, citou a participação popular de apoiadores eu seus atos de
campanha. “As pesquisas diziam que em 2018 eu perderia para qualquer um”,
reforçou.
Lula e PT
Sobre anulação, pelo STF, dos processos em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) respondia, disse que parte da população ainda não entende o que, de fato, aconteceu nos escândalos de corrupção de que Lula é acusado.
“O BNDES emprestou dinheiro para a Venezuela (…) Hoje em
dia a dívida da Venezuela conosco, que não vai pagar, está na casa de mais de
cinco bilhões de reais”, disse, em referência aos empréstimos feitos durante o
governo Lula para países latino-americanos governados por ditadores. “Uma parte
dessa grana servia para refinanciar ditaduras em outros países aqui da América
do Sul”.
Bolsonaro mencionou, ainda, declarações de envolvidos nos
supostos esquema, que delataram à Justiça que Lula sabia dos casos de
corrupção. “Essa corrupção foi endêmica, existiu no Brasil”, destacou.
Urnas eletrônicas
Questionado sobre como seria sua reação em relação ao
sistema eleitoral caso seja derrotado no primeiro turno nestas eleições, disse
que não teria problemas em ser derrotado se as eleições forem limpas, mas
evitou responder como diagnosticaria a ocorrência de eventuais problemas nas
urnas.
O presidente afirmou também que houve má vontade por parte
do TSE no sentido de aceitar sugestões das Forças Armadas para contribuir no
aperfeiçoamento do sistema de votação.
Indagado novamente sobre seu eventual questionamento do
resultado das eleições, disse apenas que aguardaria o resultado e reforçou que
possui apoio popular.
Condução da pandemia
Sobre as acusações de má gestão da pandemia da Covid-19, das
quais seu governo frequentemente é alvo, argumentou que houve distribuição de
vacinas para todos os que desejaram voluntariamente serem imunizados e criticou
o que chamou de “criminalização do tratamento precoce”.
Meio ambiente
Bolsonaro reconheceu a ocorrência das queimadas ilegais na Amazônia durante seu mandato e disse que há dificuldades em inibir completamente fogos criminosos devido ao tamanho do bioma amazônico. Ele disse, no entanto, que apesar de incêndios criminosos e desmatamento serem uma realidade, não ocorrem nos números que são propagados e afirmou que esse superdimensionamento ocorreria a interesse de concorrentes do agronegócio brasileiro.
Compra de imóveis por parentes
A respeito das acusações da compra de imóveis por membros e
ex-membros de sua família em dinheiro vivo nos últimos 30 anos, defendeu-se
dizendo que foram apuradas transações imobiliárias de vários parentes ao longo
de 32 anos que não foram feitas com dinheiro vivo. “Esse ex-cunhado, que é o
que tem o maior número de imóveis comprado, tem umas 30 lojas comerciais no
Vale do Ribeira entre móveis e materiais de construção”.
Criticou o fato de que na reportagem que mencionou o caso
não foram citados os imóveis que já foram vendidos. “O meu filho Flávio só tem
um imóvel, e tá na conta dele 15 imóveis. Ele comprou barato na planta no
passado e revendeu na frente com um pouco de lucro, depois revendeu tudo e
comprou uma casa muito boa em Brasília”.
Sobre a acusação de que as operações tenham sido feitas em
dinheiro vivo, disse que “qualquer transação, se você for olhar na escritura,
está escrito moeda corrente. O que é moeda corrente? Moeda corrente é a daquela
época (…) Esse assunto foi arquivado pelo STF como sendo um assunto criminoso
e mentiroso”.
Perseguição religiosa na Nicarágua
Reafirmou que seu governo tem disposição de acolher
refugiados que tenham sido expulsos do país, e que isso seria uma sinalização
de que o governo brasileiro não está satisfeito com o regime do ditador Daniel
Ortega.
“Estamos dispostos não só a receber só nicaraguenses. Temos
recebido haitianos, venezuelanos, ucranianos e tantas outras pessoas que são
perseguidas em seus países, e muitas delas por perseguições religiosas”.
Considerações finais
Em suas declarações finais, Bolsonaro usou o tempo para enfatizar bandeiras clássicas que tem apresentado em sua campanha eleitoral, como a posição contrária à ideologia de gênero, a liberação das drogas e ao aborto, e o posicionamento favorável à defesa da propriedade privada e ao direito à legítima defesa.