Após críticas, Lula acena ao agronegócio e defende armas no campo
Após ter feito comentários polêmicos ao dizer que o setor do agronegócio é “fascista e direitista”, o candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fez acenos ao agronegócio em entrevista ao Canal Rural nesta quarta-feira (21).
Ao longo da entrevista, o petista buscou ressaltar em diversas ocasiões o papel de destaque do setor no abastecimento de alimentos nos mercados interno e externo. Dentre outros assuntos, Lula falou sobre medidas econômicas relacionadas ao setor, prometeu concluir o acordo Mercosul-União Europeia em seis meses e aumentar o investimento na Embrapa e evitou focar em críticas diretas ao seu principal adversário na corrida eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL), que goza de apoio de grande parte do setor.
Em relação à violência no campo, evitou fazer críticas ao armamento
para a população rural, cujas propriedades costumam ficar distantes do acesso
das forças de segurança, e disse que não vê problema em produtores rurais terem
armas em sua propriedade para autodefesa.
O presidenciável também afirmou que hoje os sem-terra estão “muito
mais maduros” e que os empresários do agronegócio “precisam ter juízo” e
discutir qual tipo de agricultura desejam, em referência à sustentabilidade na
produção agropecuária.
Veja a seguir alguns dos principais temas abordados por Lula
na entrevista:
Interferências do Estado
Questionado sobre declaração recente, na qual mencionou a possibilidade de seu eventual governo limitar a exportação de carne, Lula disse que não faria esse tipo de intervenção, mas que o país não pode permitir exportação maior do que a demanda interna do país. “Você não pode exportar o que está faltando no Brasil”, declarou.
MST e invasões de Terra
Indagado sobre os problemas enfrentadores pelos produtores rurais
relacionados a invasões de terra, praticadas com frequência pelo Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e movimentos semelhantes que apoiam a
candidatura de Lula, o presidenciável disse “pouquíssimas terras produtivas
foram invadidas nesse país”. Afirmou também que atualmente os sem-terra estão
preocupados em produzir, organizar cooperativas e chegar no mercado externo. Para
Lula, o comportamento dos sem-terra, hoje, é “muito mais maduro”.
Política externa relacionada ao agro
O petista disse que o Brasil precisa avançar na preservação
ambiental e na produção sustentável, mas que em relação a exigências internacionais
desproporcionais buscaria a negociação. Prometeu que, se eleito, concluirá o
acordo entre Mercosul e União Europeia em seis meses. “Posso
garantir uma coisa: se ganhar as eleições, nos primeiros seis meses vamos
concluir o acordo com a União Europeia. Um acordo que leve em consideração a
necessidade de o Brasil voltar a se industrializar, porque não podemos permitir,
por exemplo, compras governamentais se não prejudicamos as pequenas e médias
empresas”, disse Lula.
Terras indígenas
Questionado a respeito de como enxergava políticas de aumento
de terras para indígenas no lugar da criação de melhores condições para que esses
povos se integrem à sociedade, o ex-presidente afirmou que é preciso fornecer mais
terras para “manter a cultura indígena”. Mais à frente disse que, caso eleito,
criaria muitas câmaras de negociação para que o Brasil “tome decisões mais democráticas”.
Violência no campo e armamento
Perguntado sobre quais seriam suas propostas relacionadas à violência
no campo contra produtores rurais, e de como enxergava a questão do acesso a armamento
para essa população com finalidade de autodefesa, disse que apesar de ser contrário
ao armamento, não vê problema em produtores rurais terem armas em suas
propriedades.
Na sequência, fez críticas à política de maior acesso de
armamento à população civil nos últimos anos e chegou a comparar o discurso
pró-armas de Bolsonaro ao ditador venezuelano Hugo Chávez, cujo regime obteve
apoio do Partido dos Trabalhadores. “O que que o Bolsonaro diz, e o filho dele
diz? Ah, o povo armado… sabe… é o mesmo discurso que o Chávez fazia”.
Lula declarou que, se eleito, endureceria as regras
relacionadas ao armamento.
Reforma tributária e administrativa
Pontuou que, caso eleito, faria proposta de uma reforma
tributária progressiva, mas fatiada. “Tem que fazer por pontos, o que você quer
mudar a cada momento”. A respeito da reforma administrativa, que mudaria regras
para servidores públicos, disse ao entrevistador que “aquilo que é gasto na sua
cabeça, para mim é investimento”. O ex-presidente reiterou, ainda, que não cumpriria
o Teto de Gastos.
Bancada do agronegócio
Sobre a forma como trataria os parlamentares que compõem a bancada ruralista e entidades e lideranças do agronegócio caso fosse eleito, o petista disse que trataria o setor com respeito, “sabendo da importância deles para a economia brasileira e para a grandeza do desenvolvimento”. “É lógico que eu tenho mais amizade com o bancário do que com o banqueiro, mas a hora que eu virar presidente, a mesma sala que entrar o bancário vai entrar o banqueiro”, afirmou.