7 de setembro tem tom mais duro de Bolsonaro e Lula
As manifestações do 7 de setembro abriram a reta final do primeiro turno da eleição presidencial com um tom mais duro do que vinha ocorrendo na campanha até agora. O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trocaram acusações e usaram palavras mais críticas para se referir ao adversário.
Bolsonaro afirmou que os petistas representam o “mal”. Defendeu que Lula e a esquerda sejam “extirpados” da vida pública nacional. Chamou o petista, sem citá-lo nominalmente, de “quadrilheiro de nove dedos”, numa referência aos escândalos de corrupção que envolveram o PT. E buscou comparar sua esposa, Michelle Bolsonaro, com a mulher de Lula, Janja.
Lula, na noite de quarta-feira (7), reagiu por meio de vídeo divulgado em suas redes sociais. Citou a informação de que a Bolsonaro comprou imóveis com dinheiro vivo e lançou dúvida sobre a legalidade disso. Também se referiu às acusações de “rachadinha” que envolvem sua família e ao ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, envolvido nesse caso. Citou a suspeita de corrupção no Ministério da Educação (MEC).
Lula também insinuou que Bolsonaro é responsável por “mais da metade” das 682 mil mortes de brasileiros por Covid-19. E disse que havia uma “quadrilha” da vacina em seu governo, referindo-se, sem citar nominalmente, à tentativa de compra do imunizante indiano Covaxin (o negócio não foi concretizado e não houve pagamento).
O que Bolsonaro disse sobre Lula e o PT no 7 de setembro
Em Brasília, depois do desfile cívico-militar, Bolsonaro subiu em um carro de som e repetiu que sua candidatura representa a “luta do bem contra o mal”. “Sabemos que temos pela frente uma luta do bem contra o mal. O mal que perdurou por 14 anos de nosso país. Que quase quebrou a nossa pátria. E que agora deseja voltar a cena do crime. Não voltarão. O povo está do nosso lado. O povo está do lado do bem”, disse o presidente.
Sem citar a mulher de Lula, a socióloga Rosângela da Silva, mais conhecida como Janja, Bolsonaro comparou Michelle a uma “princesa”. “Podemos fazer várias comparações até entre as primeiras-damas. Não há o que discutir uma mulher de Deus, família e ativa na minha vida”, disse o presidente.
Quando Bolsonaro se referiu a Lula, dizendo que ele “quer voltar à cena do crime” apoiadores do presidente começaram a gritar frases contra o ex-presidente: “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão”.
Além de criticar o ex-presidente Lula, Bolsonaro aproveitou seu discurso ao lado do pastor Silas Malafaia para acenar ao eleitorado conservador. Para se contrapor ao petista, Bolsonaro afirmou que em seu governo não existe a “ideia de discutir a legalização do aborto”. “Nós somos um governo que sabemos que o nosso estado é laico, mas seu presidente é cristão! Nós defendemos a vida desde a sua concepção. Não existe no nosso governo a ideia de legalizar o aborto”, disse o presidente.
A fala de Bolsonaro foi vista como uma forma de resgatar uma declaração de Lula que, em abril deste ano, defendeu que o aborto seria “uma questão de saúde pública” a que “todo mundo teria direito”. A declaração acabou gerando desgastes na campanha petista e ampliou, principalmente, a resistências dos eleitores evangélicos ao nome de Lula.
“Somos uma pátria majoritariamente cristã. Que não quer a liberação das drogas. E não quer legalização do aborto e não admite a ideologia de gênero. Um país que defende a vida desde a sua concepção, que respeita as crianças na sala de aula, que respeita a propriedade privada. E que combate a corrupção para valer. Isso não é virtude, é obrigação de qualquer chefe do Executivo”, completou Bolsonaro.
No Rio, Bolsonaro defendeu extirpar Lula da vida pública
Assim como em Brasília, Bolsonaro aproveitou o discurso na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, para criticar o ex-presidente Lula. Na avaliação do presidente, o país vive um “momento de decisão” e que o governo será “muito melhor” caso ele seja reeleito. “Neste momento de decisão, e vocês sabem que nós somos escravos das nossas decisões, vejam a vida pregressa [dos candidatos]. Não só pessoal, mas também ao longo do seu respectivo mandato, para vocês poderem fazer a sua decisão”, pediu o presidente.
Para criticar Lula, Bolsonaro pediu que os manifestantes comparecem a relação do petista com os demais países da América do Sul. “Compare o Brasil com os países da América do Sul, compare com a Venezuela, compare com o que está acontecendo na Argentina, e compare com a Nicarágua. Em comum esses países têm nomes que são amigos entre si. Todos são amigos do quadrilheiro de nove dedos que disputa a eleição no Brasil. Esse tipo de gente tem que ser extirpado da vida pública”, afirmou Bolsonaro.
Durante a fala de Bolsonaro, os manifestantes gritavam frases de “Lula ladrão, seu lugar é na prisão”. Além disso, alguns presentes usavam faixas e cartazes criticando diretamente o ex-presidente do PT.
Lula usa compra de imóveis de Bolsonaro para rebater o presidente no 7 de setembro
O ex-presidente Lula divulgou em suas redes sociais, na noite de quarta (7), um vídeo em que afirma que Bolsonaro usou as comemorações do 7 de setembro para atacá-lo. E aproveitou para rebater com ataques a Bolsonaro.
Lula questionou a compra de imóveis em dinheiro vivo por Bolsonaro e insinuou haver irregularidade nisso. “Eu não sei o que é. O que eu sei é que tem algo podre no ar e é importante que essas coisas sejam investigadas. Quem não deve não teme. Não é com salário de deputado que alguém compra isso. É algo que não vem do salário. Eles têm que explicar para a sociedade”, disse Lula. Na semana passada, reportagem do portal UOL revelou que pelos 51 dos mais de 100 imóveis da família Bolsonaro foram compradas com dinheiro em espécie.
Lula também fez referências às acusações de esquema de “rachadinha” que envolvem principalmente o senador Flávio Bolsonaro. Também citou o ex-assessor parlamentar de seu filho Fabrício Queiroz, pivô do caso. E também disse haver uma quadrilha para a compra da vacina indiana Covaxin para a Covid-19 (o negócio nem mesmo foi concretizado).
“Como é que pode ele tentar falar e xingar os outros sem explicar para o povo brasileiro a situação do [Fabrício] Queiroz, da rachadinha da sua família, sem explicar a quadrilha do [ex-ministro da Saúde Eduardo] Pazuello na compra da vacina?”, questionou o candidato petista. Sobre a Covid, Lula também atribuiu a Bolsonaro mais da metade das 682 mil mortes de brasileiros pela doença, dizendo que a informação é de “cientistas”, sem especificar quais.
Lula também fez referência à suspeita de corrupção no Ministério da Educação (MEC) na gestão do ex-ministro Milton Ribeiro – num caso ainda não esclarecido sobre um suposto tráfico de influência realizado por pastores. “Ele [Bolsonaro] deveria explicar as mazelas que ele fez. Por exemplo, os pastores no Ministério da Educação, tentando levar dinheiro para resolver os problemas deles e não da educação”, disse o petista.
O vídeo de Lula marca uma mudança de tom em relação ao adotado no primeiro debate da TV Band, quando o ex-presidente evitou o confronto direto envolvendo o tema da corrupção, em função dos escândalos de corrupção dos governos petistas. A campanha do PT, no entanto, avalia agora que Bolsonaro pode ficar acuado nesse debate.
Partido de Lula vai ao TSE contra atos de Bolsonaro no 7 de setembro
Paralelamente ao discurso mais duro, a campanha de Lula vai questionar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a participação de Bolsonaro nas manifestações do 7 de setembro, numa ofensiva judicial contra o atual presidente. Para o PT, o tom dos discursos de Bolsonaro nos atos configuram uso da máquina pública em proveito eleitoral.
“Bolsonaro fez uso indiscutível de um evento oficial para discursar como candidato. Há abuso de poder econômico e político acachapante, com o uso de recursos públicos, de uma grande estrutura pública, para fazer campanha. Os discursos desse comício escancarado foram transmitidos ao vivo para toda a nação, inclusive por meio da TV Brasil, uma TV estatal”, afirmam os advogados Eugênio Aragão e Cristiano Zanin Martins, que representam a candidatura de Lula.