Bolsonaro acelera viagens e gastos superam os R$ 100 milhões

As viagens nacionais e internacionais do presidente Jair Bolsonaro já superam os R$ 100 milhões desde janeiro de 2019. Os gastos aumentam na medida em que as eleições se aproximam. Os deslocamentos no país somaram R$ 30 milhões no ano passado e já chegam R$ 20 milhões no primeiro semestre de 2022. As sete viagens mais caras no país em três anos e meio foram para Guarujá e São Francisco do Sul (SC), onde o presidente goza as férias e feriados, com despesas pagas pelo contribuinte. Das 25 viagens mais caras, 13 são para esses destinos, com custos totais de R$ 11 milhões.

Os dados foram obtidos pelo blog por meio da Lei de Acesso à
Informação. A Presidência da República informou cada cidade visitada, com a
data e o custo do deslocamento, incluindo gastos com cartões corporativos
(taxas aeroportuárias, hospedagem, alimentação, telefonia), mais diárias e
passagens para assessores e seguranças. O blog atualizou as despesas pela
inflação do período e incluiu a agenda do presidente nas viagens mais caras.

Até 26 de junho deste ano, as 377 viagens nacionais somam R$
90,6 milhões, com valor médio de R$ 240 mil. As internacionais chegam a R$ 7,7
milhões, com média de R$ 383 milhões. O valor total atinge R$ 98,3 milhões, mas
ainda falta computar mais 31 viagens nacionais em que ainda não houve a
prestação de contas à Secretaria-Geral da Presidência. Assim, as despesas
superam em muito os R$ 100 milhões. As despesas com viagens nacionais do
presidente no primeiro trimestre deste ano ficaram em R$ 8,9 milhões. No
segundo trimestre, saltaram para R$ 11,6 milhões.

Reportagem do blog mostrou quem mais gastou com viagens nacionais e internacionais, comparando os mandatos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff com atual mandato de Bolsonaro, observando os mesmos tipos de despesa, com dados fornecidos pela Secretaria-Geral da Presidência.

Férias, folgas e feriados próximos

O presidente Bolsonaro já afirmou que a hospedagem no Forte
dos Andradas, em Guarujá , não gera despesas, por se trabalhar de uma unidade
militar. Mas os deslocamentos para esses locais, com dezenas de seguranças e
assessores, exigem o pagamento de diárias e passagens aéreas. Há ainda despesas
com alimentação, transporte terrestre e taxas aeroportuárias. O custo de cada
viagem foi divulgado pela Presidência.

O presidente curtiu férias em São Francisco e no Guarujá de
14 de dezembro de 2020 a 4 de janeiro de 2021, a um custo de R$ 2,3 mil. Dois
meses após, retornou a São Francisco, onde ficou hospedado no Forte Marechal
Luz, na Praia do Forte, para mais uma folga. Mais uma despesa de R$ 848. No
total, R$ 3,1 mil na conta do contribuinte.

Nesses locais, o presidente costuma passear de jet ski,
comer pastéis em barracas na praia e fazer selfies com admiradores. Promoveu
aglomerações e não utilizou máscara, como recomendava o próprio governo, nos
eventos ocorridos durante a pandemia da Covid-19.

De 14 de dezembro de 2021 a 5 de janeiro de 2022, o presidente descansou em Guarujá e São Francisco, com despesas de R$ 2,3 mil. Mais dois meses e retornou ao Guarujá no Carnaval, no início de março, para relaxar. O roteiro incluiu uma visita a Praia Grande, em passeio de barco. Com mais uma despesa de R$ 808 mil, a conta das folgas fechou em R$ 3,1 mil.

Agrados aos evangélicos

Reportagem do blog já havia mostrado que Bolsonaro elevou os gastos com cartões corporativos em 2022. Em apenas três meses, de maio a julho, ele esteve em 12 eventos com evangélicos – sua principal base eleitoral. Em 27 de maio, voou cedo para Goiânia, onde participou do culto da Assembleia Geral Extraordinária da Convenção Nacional das Assembleias de Deus do Ministério de Madureira, às 10h15. Retornou a Brasília às 12h30. As três horas em Goiânia custaram R$ 204 mil aos cofres públicos.

No dia seguinte, partiu às 8h30 para Manaus. Esteve em
encontro com evangélicos às 14h e na Marcha para Jesus, das 15h às 19h.
Retornou a Brasília às 19h45. A presença nos eventos evangélicos foi mais cara
– R$ 540 mil.

O presidente viajou para Balneário Camboriú (SC) às 7h do
dia 25, um sábado. Esteve na Marcha para Jesus, às 10h30, e no culto por
ocasião da Marcha, às 11h45. Retornou a Brasília às 15h. A conta das cinco
horas em Santa Catarina ainda não chegou à Presidência da República nem ao
contribuinte.

Outra reportagem do blog revelou que, de janeiro de 2019 até julho de 2021, a participação do presidente em 12 cultos, assembleias e reuniões com evangélicos havia custado R$ 1,5 milhão. Os números da Secretaria-Geral mostram que essas visitas e seus custos se multiplicam a medida que as eleições de aproximam.

São João e obras no roteiro

O roteiro de viagens, às vezes, é multitemático. No dia 23 de junho, uma quinta-feira, Bolsonaro voou para Caruaru (PE) às 13h30. Às 21h, visitou a Festa de São João de Caruaru. Seguiu para João Pessoa (PB) quase à meia noite. No dia seguinte, às 10h, prestigiou a cerimônia de entrega dos Residenciais Canaã. Às 14h15, partiu para Campina Grande (PB), que disputa com Caruaru o título de maior São João do país. Visitou a Vila Sítio São João, às 16h, e esteve na Festa do Parque do Povo. A festança custou R$ 733 mil aos cofres públicos.

Quanto custaram as viagens de Bolsonaro para festas de São João. Foto: Isac Nóbrega| Isac Nóbrega/PR

O presidente não esqueceu o agronegócio. Apenas em maio, prestigiou a Feira Nacional da Soja, em Santa Rosa (RS); a 48ª Edição da Expoingá, em Maringá (PR); a Feibanana, em Pariquera-Açu (SP); e a Bahia Farm Show, em Luís Eduardo Magalhães. Os deslocamentos para os quatro eventos custaram R$ 1 milhão (Veja quadro com as viagens mais caras).

Quem paga as despesas na campanha

Durante a campanha eleitoral, as despesas com a segurança do presidente da República são pagas pela Presidência. Assim aconteceu também nos governos Lula e Dilma Rousseff, como mostrou o blog. A Secretaria Geral da Presidência da República, que faz os pagamentos, afirmou que as despesas dos “servidores necessários à segurança e ao apoio técnico que ocorrem em qualquer deslocamento presidencial não são objeto de ressarcimento. Tais despesas são indispensáveis à segurança, atendimento logístico e pessoal nas viagens do presidente”.

A Resolução TSE 23.610/2019 diz que, “no transporte do
presidente em campanha ou evento eleitoral, serão excluídas da obrigação de
ressarcimento as despesas com o transporte dos servidores indispensáveis à sua
segurança e atendimento pessoal, bem como a utilização de equipamentos,
veículos e materiais necessários à execução daquelas atividades”.

Apenas as despesas com o transporte oficial pelo presidente e sua comitiva, em campanha eleitoral, será de responsabilidade do partido político a que esteja vinculado, diz a Lei 9.508/1997. Como a lei não mudou, o presidente Jair Bolsonaro poderá usar os mesmos benefícios.

As viagens mais caras

Cidade data final valor (R$ mil)
GUARUJÁ 04/01/2021 1.397
SAO FRANCISCO
DO SUL (SC)
05/01/2022 1.376
GUARUJA (SP) 23/12/2021 974
SÃO FRANCISCO
DO SUL
23/12/2020 865
SÃO FRANCISCO
DO SUL
17/02/2021 849
GUARUJA 04/03/2022 808
GUARUJA 13/10/2021 802
SAO GABRIEL DA
CACHOEIRA (AM)
28/05/2021 801
SÃO PAULO 11/02/2019 761
GUARUJÁ 27/02/2020 713
BREVES (PA) 09/10/2020 682
GUARUJA 18/04/2022 630
GUARUJÁ 14/01/2020 623
GUARUJÁ 02/11/2020 622
SÃO PAULO 13/09/2019 577
RIO DE JANEIRO 14/08/2020 575
PONTA PORA
(MS)
29/03/2022 570
GUARUJÁ 12/10/2020 548
MANAUS 28/10/2021 544
MANAUS 28/05/2022 542
BENTO
GONCALVES (RS)
04/12/2019 537
XAMBIOA (TO) 22/03/2022 534
MANAUS 18/06/2022 531
BOA VISTA 26/10/2021 526
GUARUJÁ 17/11/2019 524
CHAPECO (SC) 26/06/2021 508
TERENOS (MS) 14/05/2021 502
BAIXA GRANDE
DO RIBEIRO (PI)
30/03/2022 501
Fonte: Secretaria-Geral da
Presidência da República

Referência: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/lucio-vaz/bolsonaro-acelera-viagens-no-ano-eleitoral-e-gastos-superam-os-r-100-milhoes/

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