Qual é a estratégia de Bolsonaro para ajudar a eleger aliados nos estados
O presidente Jair Bolsonaro (PL) deu seus primeiros passos nesta semana para ajudar a eleger aliados políticos. O candidato à reeleição vai aproveitar as agendas de campanha e as suas tradicionais lives semanais para promover seus aliados nos estados, como já fez nesta semana, em atos em Juiz de Fora (MG) e São José dos Campos (SP) e na transmissão ao vivo desta quinta-feira (18).
A estratégia de Bolsonaro será centrada em cargos majoritários (governadores e senadores), sendo que a associação da imagem do presidente a candidatos a deputados federais ou estaduais vai ocorrer caso a caso, apenas em nomes que o presidente confia. Já nos estados onde tem palanque duplo, como no Rio Grande do Sul, Bolsonaro evitará declarar um preferido.
Como em 2018, aliados de Bolsonaro acreditam que ele possa, mais uma vez, ser o principal responsável por alavancar as candidaturas dos nomes escolhidos por ele. Em São José dos Campos, o presidente pediu votos para dois de seus ex-ministros: Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato ao governo de São Paulo, e Marcos Pontes (PL), candidato ao Senado.
Em Juiz de Fora, Bolsonaro oficializou sua campanha em um comício ao lado do senador Carlos Viana (PL-MG), candidato ao governo de Minas Gerais, e do deputado estadual mineiro Cleitinho Azevedo (PSC-MG), candidato ao Senado. Outro que também esteve no palanque é o vereador belo-horizontino Nikolas Ferreira, candidato à Câmara dos Deputados.
A agenda de viagens de Bolsonaro será o principal trunfo da campanha para impulsionar a eleição e reeleição de aliados. Outra estratégia utilizada são as lives.
Bolsonaro aposta nas lives
“Ele vai usá-las para citar as pessoas. Se ele estiver em um estado, ele deve chamar aliados para participar junto. Serão seis quintas-feiras até o primeiro turno. Onde ele estiver, com certeza vai escolher candidatos para participar das transmissões”, analisa o deputado federal Coronel Tadeu (PL-SP).
Na live desta quinta-feira, a primeira após o início da campanha, Bolsonaro fez a transmissão sem nenhum aliado na bancada. Porém, ao longo de quase 10 minutos, pediu votos a 17 aliados de Norte a Sul do país. Deixou claro, porém, que não citaria todos na mesma transmissão e que outros nomes seriam mencionados na próxima semana.
Dos 17 nomes citados por Bolsonaro, 12 vão disputar o Senado, dos quais seis são integrantes ou ex-integrantes do governo: Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do Desenvolvimento Regional; Jorge Seif (PL-SC), ex-secretário de Pesca; Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura; Gilson Machado (PL-PE), ex-ministro do Turismo; Marcos Pontes (PL-SP), ex-ministro de Ciência e Tecnologia; Hamilton Mourão (Republicanos-RS), vice-presidente.
Os outros seis nomes ao Senado são Bruno Roberto (PL), pela Paraíba; Paulo Eduardo Martins (PL), pelo Paraná; Raíssa Soares (PL), pela Bahia; Cleitinho (PSC), por Minas Gerais; Wilder Morais (PL), por Goiás; e Coronel Menezes (PL), pelo Amazonas.
Os outros cinco citados são aliados indicados a governos estaduais: Nilvan Ferreira (PL), na Paraíba; João Roma (PL), ex-ministro da Cidadania, na Bahia; Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo; Carlos Viana (PL), em Minas Gerais; e Vitor Hugo (PL), em Goiás.
A live, até o começo da noite desta sexta-feira (19), tinha 357.695 visualizações no Youtube. A transmissão também é feita em outras redes sociais do presidente.
Como fica o apoio a candidaturas com palanques duplos
Bolsonaro disse ainda que alguns candidatos querem seu apoio, mas deixou claro que divulgaria apenas nomes ao Senado e a governos estaduais e avisou que não apoiaria aliados em estados onde há palanques duplos.
“Estado onde tem mais de dois candidatos ao Senado ou mesmo mais de dois candidatos a governador que estão nos apoiando a nossa ideia é não abrir uma fissura ali”, explicou.
Um desses palanques duplos está no Rio Grande do Sul, onde o governo estadual é disputado entre o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), dois aliados do presidente. A tendência é Bolsonaro não apoiar nenhum dos dois no primeiro turno e tomar partido apenas no segundo turno, segundo explica o deputado federal Sanderson (PL-RS).
“O presidente não vai entrar em bola dividida. Agora, no segundo turno, sim, claro. Mas no primeiro, não vai apoiar ninguém abertamente para não causar desgaste com o eleitorado do PP, que é do Heinze, que sempre apoiou o presidente no Senado. E Onyx é amigo pessoal do Bolsonaro, próximo demais”, diz.
A situação de palanques duplos também ocorre em outros estados, como no Rio de Janeiro, onde o senador Romário (PL) vai à reeleição em disputa contra o deputado federal Daniel Silveira (PTB). Outro exemplo é Brasília, onde as ex-ministras Flávia Arruda (PL) e Damares Alves (Republicanos), disputam o Senado.
Em Minas Gerais, Bolsonaro tem apenas um palanque – o de Viana –, mas já indicou admiração pela gestão do atual governador mineiro, Romeu Zema (Novo).
“Digo que tenho relacionamento muito bom com o governador Zema, até tenho mais coisas positivas para falar o que fez o Zema, mas o Carlos Viana é o que vem pelo nosso partido para o governador do estado”, comentou.
Como fica o apoio à candidatura de deputados estaduais e federais
O temor de “traições” e a dificuldade em selecionar aliados é apontado entre pessoas próximas de Bolsonaro como um dos motivos pelos quais ele não pedirá votos a quem disputar cargos eletivos pelo sistema proporcional (deputados federais e estaduais).
“Acho que não vai fazer vídeo com os proporcionais, pois vai ser difícil selecionar. E como aconteceu de haver muitas traições em 2018, talvez ele esteja com receio de fazer vídeos a deputados federais. Talvez chegando ao fim ele comece a falar alguns nomes que se engajaram mais”, avalia a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Até o momento, Bolsonaro dá sinais de que vai escolher a “dedo” seus aliados para cargos proporcionais. Alguns exemplos são o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ) e o tenente Mosart Aragão (PL), assessor especial do presidente. Ambos foram mencionados na live de quinta-feira.
O deputado Coronel Tadeu, vice-líder do PL na Câmara, entende que Bolsonaro não vai pedir votos de maneira pública a candidatos à Câmara dos Deputados e às assembleias legislativas, mas acredita que uma estratégia que será usada por esses candidatos é associar a imagem do presidente a eles com fotos ou vídeos gravados em algum comício ou outro ato da campanha presidencial.
O deputado federal Sanderson, vice-líder do governo na Câmara, acredita, porém, que o presidente será mais seletivo nesta campanha até mesmo para tirar fotos com candidatos, diferente do que foi na campanha de 2018, e que mesmo aliados com mandato no Congresso podem vir a ter que lidar com a seletividade do presidente. Para os sem mandato no Parlamento, ele entende que haverão poucas exceções de aliados que terão abertura junto ao presidente.
“O próprio general Pazuello, que não tem mandato, mas foi ministro [da Saúde], não tem vídeo. Se abrir [precedente] para um, podem entender que ele teria que abrir para todos e pode dar confusão”, analisa. Apesar dos desafios para aliados a cargos proporcionais conseguirem o apoio de Bolsonaro, Sanderson minimiza e avalia que não são fotos ou vídeos com o presidente no período eleitoral que farão a diferença.
“É o trabalho de quatro anos que as pessoas conhecem, não vai ser vídeo agora faltando menos de 50 dias que vai eleger alguém”, avalia.
Referência: https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/como-bolsonaro-pode-ajudar-eleicao-reeleicao-aliados-estados/